CANÇÃO AO EXÍLIO
(Wybson Carvalho)
em minha terra havia palmeiras
e o canto dos sabiás.
nela, exalava o perfume
dos jardins urbanos.
dela, ouvia-se a linguagem
singela do cotidiano.
com a minha cidade crescia
a romântica dos poetas...
a inimizade humana
passava por sobre ela
em eólica turbulência rumo
às outras plagas,
para derramar-se noutros
cenários de ganância existencial.
à minha terra, na infância,
ouviam-se sinfonias sabianas
nas manhãs iniciais de um
futuro já desenhado ao abandono.
e, agora, quais árvores darão
abrigo a outros pássaros canoros
para entoarem um canto de saudade?
* * *
Uma canção
(Mario
Quintana)
Minha terra
não tem palmeiras...
E em vez de
um mero sabiá,
Cantam aves
invisíveis
Nas
palmeiras que não há.
Minha terra
tem relógios,
Cada qual
com sua hora
Nos mais
diversos instantes...
Mas onde o
instante de agora?
Mas onde a
palavra "onde"?
Terra
ingrata, ingrato filho,
Sob os céus
da minha terra
Eu canto a
Canção do Exílio!
* * *
Nova Canção
do Exílio
(Ferreira
Gullar)
Minha amada
tem palmeiras
Onde cantam
passarinhos
e as aves
que ali gorjeiam
em seus
seios fazem ninhos
Ao
brincarmos sós à noite
nem me dou
conta de mim:
seu corpo
branco na noite
luze mais do
que o jasmim
Minha amada
tem palmeiras
tem regatos
tem cascata
e as aves
que ali gorjeiam
são como
flautas de prata
Não permita
Deus que eu viva
perdido
noutros caminhos
sem gozar
das alegrias
que se
escondem em seus carinhos
sem me
perder nas palmeiras
onde cantam
os passarinhos
* * *
Canção do
Exílio Facilitada
(José Paulo
Paes)
lá?
ah!
sabiá…
papá…
maná…
sofá…
sinhá…
cá?
bah!
* * *
Pátria Minha
Pátria Minha
(Vinicius de
Moraes)
A minha
pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e
vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha
pátria. Por isso, no exílio
Assistindo
dormir meu filho
Choro de
saudades de minha pátria.
Se me
perguntarem o que é a minha pátria direi:
Não sei. De
fato, não sei
Como, por
que e quando a minha pátria
Mas sei que
a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram
e liquefazem a minha mágoa
Em longas
lágrimas amargas.
Vontade de
beijar os olhos de minha pátria
De niná-la,
de passar-lhe a mão pelos cabelos...
Vontade de
mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
De minha
pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias
pátria minha
Tão
pobrinha!
Porque te
amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu
semente que nasci do vento
Eu que não
vou e não venho, eu que permaneço
Em contato
com a dor do tempo, eu elemento
De ligação
entre a ação o pensamento
Eu fio
invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem
Deus!
Tenho-te no
entanto em mim como um gemido
De flor;
tenho-te como um amor morrido
A quem se
jurou; tenho-te como uma fé
Sem dogma;
tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito
Nesta sala
estrangeira com lareira
E sem
pé-direito.
Ah, pátria
minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra
Quando tudo
passou a ser infinito e nada terra
E eu vi alfa
e beta de Centauro escalarem o monte até o céu
Muitos me
surpreenderam parado no campo sem luz
À espera de
ver surgir a Cruz do Sul
Que eu
sabia, mas amanheceu...
Fonte de
mel, bicho triste, pátria minha
Amada,
idolatrada, salve, salve!
Que mais
doce esperança acorrentada
O não poder
dizer-te: aguarda...
Não tardo!
Quero
rever-te, pátria minha, e para
Rever-te me
esqueci de tudo
Fui cego,
estropiado, surdo, mudo
Vi minha
humilde morte cara a cara
Rasguei
poemas, mulheres, horizontes
Fiquei
simples, sem fontes.
Pátria
minha... A minha pátria não é florão, nem ostenta
Lábaro não;
a minha pátria é desolação
De caminhos,
a minha pátria é terra sedenta
E praia
branca; a minha pátria é o grande rio secular
Que bebe
nuvem, come terra
E urina mar.
Mais do que
a mais garrida a minha pátria tem
Uma
quentura, um querer bem, um bem
Um libertas
quae sera tamem
Que um dia
traduzi num exame escrito:
"Liberta
que serás também"
E repito!
Ponho no
vento o ouvido e escuto a brisa
Que brinca
em teus cabelos e te alisa
Pátria
minha, e perfuma o teu chão...
Que vontade
de adormecer-me
Entre teus
doces montes, pátria minha
Atento à
fome em tuas entranhas
E ao batuque
em teu coração.
Não te direi
o nome, pátria minha
Teu nome é
pátria amada, é patriazinha
Não rima com
mãe gentil
Vives em mim
como uma filha, que és
Uma ilha de
ternura: a Ilha
Brasil,
talvez.
Agora
chamarei a amiga cotovia
E pedirei
que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao
sabiá
Para
levar-te presto este avigrama:
"Pátria
minha, saudades de quem te ama...
* * *
Terra das Palmeiras
Terra das Palmeiras
(Taiguara)
Sonhada
terra das palmeiras
Onde andará
teu sabiá?
Terá ferido
alguma asa?
Terá parado
de cantar?
Sonhada
terra das palmeiras
Como me dói
meu coração
Como me mata
o teu silêncio
Como estás
só na escuridão.
Ah! minha
amada amortalhada
Das mãos do
mal vou te tirar
P'ra dançar
danças de outras terras
E em outras
línguas te acordar.
* * *
Sabiá
(Chico
Buarque de Hollanda)
Vou voltar
Sei que
ainda vou voltar
Para o meu
lugar
Foi lá e é
ainda lá
Que eu hei
de ouvir cantar
Uma sabiá
Vou voltar
Sei que
ainda vou voltar
Vou deitar à
sombra
De um
palmeira
Que já não
há
Colher a
flor
Que já não
dá
E algum amor
Talvez possa espantar
As noites
que eu não queira
E anunciar o
dia
Vou voltar
Sei que
ainda vou voltar
Não vai ser
em vão
Que fiz
tantos planos
De me
enganar
Como fiz
enganos
De me
encontrar
Como fiz
estradas
De me perder
Fiz de tudo
e nada
De te
esquecer
Vou voltar
Sei que
ainda vou voltar
E é pra
ficar
Sei que o
amor existe
Não sou mais
triste
E a nova
vida já vai chegar
E a solidão
vai se acabar
E a solidão
vai se acabar
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