CAXIAS
(Gonçalves Dias)
Quanto és bela, ó Caxias! — no deserto,
Entre montanhas, derramada em vale
De flores perenais,
És qual tênue vapor que a brisa espalha
No frescor da manhã meiga soprando
À flor de manso lago.
Tu és a flor que despontaste livre
Por entre os troncos de robustos cedros,
Forte — em gleba inculta;
És qual gazela, que o deserto educa,
No ardor da sesta debruçada exangue
À margem da corrente.
Em mole seda as graças não escondes,
Não cinges d'oiro a fronte que descansas
Na base da montanha;
És bela como a virgem das florestas,
Que no espelho das águas se contempla,
Firmada em tronco anoso.
Mas dia inda virá, em que te pejes
Dos, que ora trajas, símplices ornatos
E amável desalinho:
Da pompa e luxo amiga, hão de cair-te
Aos pés então — da poesia a c'roa
E da inocência o cinto.
_______________
CAXIAS [1]
(Gonçalves Dias)
Ao aniversário da sua Independência.
1 de Agosto.
Caxias, bela flor, lírio dos vales,
Gentil senhora de mimosos campos,
Como por tantos anos foste escrava,
Como a indócil cerviz curvaste ao jugo?
Oh! como longos anos insofríveis,
Rainha altiva, destoucada e bela,
Rojaste aos pés de um regulo soberbo?
À míngua definhaste em negro câncer,
Onde um raio de sol não penetrava;
Em masmorra cruel, donde não vias
Cintilar o clarão d′amiga estrela...
Oh! não, que a luz da esperança tinhas n′alma,
E o sol da liberdade um dia viste,
De glória e de fulgor resplandecente,
Em céu sem nuvens no horizonte erguido.
Eis o som do tambor atroa os vales,
O clangor da trombeta, os sons das armas,
A terra abalam, despertando os ecos.
— Eia! oh bravos, erguei-vos, — à peleja,
À fome, à sede, às privações, — erguei-vos!
Tu, Caxias, acorda, — tu, rainha,
Lamina de aço puro, envolta em ferro,
Ao sol refulgirás; — flor que esmoreces,
À míngua de ar, em cárcere de vidro,
Em ar mais livre cobrarás alento,
Graça, vida e frescor da liberdade.
Ante mural do lusitano arrojo,
Último abrigo seu, — feros soldados,
Veteranas cortes nos teus montes
Cavam bélicas tendas! — Um guerreiro,
O nobre Fidié, que a antiga espada
Do valor português empunha ardido,
No seu mando as retém: debalde, oh forte,
Expões teus dias! teu esforço inútil
Não susta o sol no rápido declive,
Que imerge aquém dos Andes orgulhosos
Da África e da Ásia os desbotados louros!
Eia! — o brônzeo canhão rouqueja, estoura,
Ribomba o férreo som d′um eco em outro,
Nuvens de fumo c pó lá se condensam...
Correi, bravos, correi!... mas tu és livre,
És livre como o arbusto dos teus prados,
Livre como o condor que aos céus se arroja;
És livre! — mas na acesa fantasia
Debuxava-me o espírito exaltado
Fráguas cruas de morte, o horror da guerra
Descobrir, contemplar. — Oh! fora belo
Arriscar a existência em pró da pátria,
Regar de rubro sangue o pátrio solo,
E sangue e vida abandonar por ela.
Longe, delírios vãos, longe fantasmas
De ardor febricitante!
À glória deste dia comparar-se
Pode acaso visão, delírio, ou sonho?
Ao fausto aniversário
Da nossa independência?
Aclamações altíssonas
Corram nos ares da imortal Caxias:
Seja padrão de glória entre nós outros
Santificada aurora,
Que os vis grilhões de escravos viu partidos.
_______________
RÉQUIEM PARA CAXIAS
(Jorge Bastiani)
Em todas as estações estás
Presente entre chuvas e
Sóis que banham os teus
Filhos orgulhosos de ti
Ó mãe terra que nos põe
De pé, de frente, firmes no
Caminhar entre pedras na
Luta cotidiana em busca
De ritmos que
Encaixe na canção que
Cantamos para
Embalar teu sono.
_______________
CAXIAS
(João Machado)
Minha terra, minha paixão
Meu socorro de ternas memórias...
No curso de um tempo,
Teu filho viveu,
Vive ainda no arqueduto da História.
Minha vida por ti é um amor contínuo,
E um sofrer sem fim
— perdida na hora espacial (moderna),
Teu passado e história têm raízes
Que nem o presente
No cruel sistema destrói.
Ser do meu ser, alma da minha alma,
Que densamente me conserva
Na vidraça do passado
E na luz da história.
_______________
CANTATA PRIMEIRA
(Firmino Freitas)
Minha mãe Caxias,
de rosto cansado,
com ruas de piche,
de rijo basalto
e pedras pontudas
e, muitas, descalças.
Ainda em criança,
por ti adotada,
sentei no teu colo,
ladrilhos de salas;
andei de gatinhas,
em velhas calçadas...
Matei minha sede,
lavei o meu corpo,
na água esmeralda
do Itapecuru,
que é o teu sangue,
em veias, corrente!
Cacei passarinho
no Raiz e no Goela;
comi canapum,
pitomba, tucum,
no alto-da-cruz.
Caxias de ontem,
de hoje e de sempre...
cantada em versos,
de mudos poetas,
amantes das musas,
teimando cantar...
_______________
MAGNÍFICAT
(Firmino Freitas)
Ave Caxias
De beleza plena
Contigo é o poeta, Urbe bendita
Entre todas, princesa
Do nosso sertão
No vale, teu ventre
O fruto, rebento
Bendito poema.
Musa Caxias
Origem do canto
Evoca cantores
Os vates mentores
No certo e na sorte
Na vida e na morte
Agora e depois
Nos tempos sem fim
E seja assim.
_______________
A PRINCESA
(Carvalho Junior)
Teu estado é uma verde verdade
Vestida em verso, banhada em ouro
A pele vermelha de sol e batalhas
Rebrilha os teus relevos
Revela e ratifica tua realeza
Tocar tua beleza é sem palavras
Dela com o perdão...
São teus, princesa dos poetas...
Os mais belos seios do sertão!
_______________
(Mário Luna Filho)
No teu silêncio
Encontro instantes de mim mesmo
Guardados na memória
Destas ruas quase sem nomes.
Num rito de busca
Vou colhendo fragmentos
De meus momentos dispersos
Pelos teus rumos.
Já não mais brincam meninos traquinos
Em tuas calçadas,
Bolsos repletos de petecas multicoloridas.
O trem, em seu ritmo lento de chegar
Não mais cogita a atenção
De teus filhos tão dispersos.
Mas a memória de teu rio
Lembrou-me cousas
Há muito esquecidas.
Achou-me
Talvez um pouco mais triste.
Mais sentido.
Mais só,
Mais
Mário...
_______________
Mário...
_______________
PENSANDO EM TI (PRINCESA)
(Alberto Pessoa)
Acordei pensando em ti
Na tua serena beleza
Nesse teu ar de princesa
Cheiro de flor, de jardim
E pensei na tua geografia
Na saliente silhueta
Mergulhei profundamente
Nas fontes caudalosas
Desse teu moreno seio
Passeei solenemente
Como se fosse príncipe
Em teu terreno fértil
Como se fosse o dono
De tua eterna nobreza
Quando eu sou tão somente
Amante de minha gente
Amor de filho errante
A saudade, o coração
Unem-se nesta oração
Rogando sempre a Deus
Que guarde nos olhos Seus
A minha, a sua, a nossa
Linda Caxias do Maranhão.
_______________
CACHO DE FLORES (ODE A CAXIAS)
(Wybson Carvalho)
quem amou, verdadeiramente,
te chamou de princesa
e quando quiseram arrancar
de ti o sumo nobre...
não aceitou beber o cálice
com teu sangue
quem ama, fielmente, te
chama de lírica poesia
e quando querem declamar
de ti o poema nativo...
atenta para ouvir os versos
brancos do teu véu
quem nunca amará, em verdade,
te trairá sob cunho promíscuo...
e quando quiserem usufruir de ti
a beleza em ônus mercenário...
ofertará a plebe de teu reino
e te deixará orfã de viva natureza...
Girlene, amiga: Excelente esse seu trabalho de pesquisa, recuperação, documentação e divulgação de textos poéticos acerca de minha cidade natal.
ResponderExcluirBrindada com o amor e exaltação de escritores, falta a Caxias ser contemplada com paixão e eficiência por seus gestores.
Com as características que têm, formadas ao longo dos séculos, Caxias reúne virtudes e realidades para se tornar um grande destino para o turismo histórico-cultural, entre outras possibilidades econômicas e sociais.
Um dia, quem sabe...
EDMILSON SANCHES
www.edmilsonsanches.com
edmilsonsanches@uol.com.br
Parabéns, são iniciativas como está que formam para a posteridade o acervo cultural-histórico-leterário de uma sociedade exemplo de um povo e para o povo.
ResponderExcluirhá muito que se preservar, para além da memória coletiva e material que nos aludem todas as tentativas de se fazer de Caxias um grande centro de reconhecimento nacional. Este trabalho é singelo, e não menos consistente. Uma tentativa sã e coerente com a tradição do lugar, que, sinceramente, não nos inspira outra coisa a não ser poesia, e lidar com poesia, é tarefa das mais louváveis. Parabéns querida e obrigada por me convidar a participar deste trabalho.
ResponderExcluir