terça-feira, 3 de maio de 2011

A dor que dói mais... (Marta Medeiros)


Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dóem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.

Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Dóem essas saudades todas.

Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.

Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.

Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.

Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.

terça-feira, 26 de abril de 2011

O Sonho (Olavo Bilac)



"Quantas vezes, em sonho, as asas da saudade
Solto para onde estás, e fico de ti perto!
Como, depois do sonho, é triste a realidade!
Como tudo, sem ti, fica depois deserto!"

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Soneto de fidelidade (Vinicius de Moraes)



De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure



quinta-feira, 14 de abril de 2011

As flores exalam perfume de amor... (Regina Azenha)



Vim
para entregar-te
estas flores...

Elas
exalam
o perfume
da minha afeição
mais profunda...

Que ao tocá-las
possas sentir
a essência da pureza,
a sublimação e a beleza
do amor que nutro por ti...


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Publicado no Recanto das Letras em 14/06/2010
Código do texto: T2319314


domingo, 10 de abril de 2011

Te amando em silêncio . . . (Tadeu Paulo)


amar-te
solitária e
silenciosamente
é como invadir
tua intimidade
não permitindo
que o sintas
ou que possas reagir
e nisso tenho
toda vantagem
pois se não estou certo
de receber um sim
pelo menos
tenho a certeza
de não ouvir
um não....
por isso caminho
junto a teus passos
sem que o percebas
e invado teu corpo
na saliência de
meus sonhos
sem que o saibas !


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Publicado no Recanto das Letras em 02/12/2008
Código do texto: T1314872

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Quem realmente ama! (Renato Dieckson)



Já escondi um AMOR com medo de perdê-lo, já perdi um AMOR por escondê-lo... Já segurei nas mãos de alguém por medo, já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir minhas mãos... Já expulsei pessoas que amava de minha vida, já me arrependi por isso... Já passei noites chorando até pegar no sono, já fui dormir tão feliz, ao ponto de nem conseguir fechar os olhos...

Já acreditei em amores perfeitos, já descobri que eles não existem... Já amei pessoas que me decepcionaram, já decepcionei pessoas que amaram... Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem sou já tive tanta certeza de mim, ao ponto de querer sumir... Já menti e me arrependi depois, já falei a verdade e também me arrependi...

Já fingi não dar importância às pessoas que amava, para mais tarde chorar quieto em meu canto... Já sorri chorando lágrimas de tristeza, já chorei de tanto rir... Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, já deixei de acreditar nas que realmente valiam... Já tive crises de riso quando não podia... Já quebrei pratos, copos e vasos, de raiva...

Já senti muita falta de alguém, mas nunca lhe disse... Já gritei quando deveria calar, já calei quando deveria gritar... Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns, outras vezes falei o que não pensava para magoar outros... Já fingi ser o que não sou para agradar uns, já fingi ser o que não sou para desagradar outros...

Já contei piadas e mais piadas sem graça, apenas para ver um amigo feliz... Já inventei histórias com final feliz para dar esperança a quem precisava... Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade... Já tive medo do escuro, hoje no escuro "me acho, me agacho, fico ali"... Já cai inúmeras vezes achando que não iria me reerguer já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais... Já liguei para quem não queria apenas para ligar para quem realmente queria...

Já corri atrás de um carro, por ele levar embora, quem eu amava... Já chamei pela mamãe no meio da noite fugindo de um pesadelo... Mas ela não apareceu e foi um pesadelo maior ainda... Já chamei pessoas próximas de "amigo" e descobri que não eram... Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim...

Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre... Não me mostre o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração!... Não me façam ser o que não sou não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente!... Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão... Sou sempre eu mesmo, mas com certeza não serei o mesmo pra SEMPRE!

Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes... Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos. Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer: - E daí? EU ADORO VOAR!

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Publicado no Recanto das Letras em 06/06/2008
Código do texto: T1022017

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Definição do Amor (Gregório de Matos )





"... Ardor em firme coração nascido;
Pranto por belos olhos derramado;
Incêndio em mares de água disfarçado;
Rio de neve em fogo convertido:

Tu, que em um peito abrasas escondido;
Tu, que em um rosto corres desatado;
Quando fogo, em cristais aprisionado;
Quando cristal, em chamas derretido.

O Amor é finalmente
um embaraço de pernas,
uma união de barrigas,
um breve tremor de artérias.

Uma confusão de bocas,
uma batalha de veias,
um rebuliço de ancas;
quem diz outra coisa, é besta."


domingo, 3 de abril de 2011

Blefes e Beijos (Carvalho Junior)


se sinceramente me odeias,
por que a minha vida rodeias?
por que pulas como uma louca em meus braços,
da minha roupa tirando todos os laços?
por que dizes que de mim tem nojo,
quando queres apenas, em verdade
me arrancar um beijo novo?
se só digo estultices e coisas sem nexo
anexa-te ao meu desejo
cala-te, ala-me, não alarma
me desarma, me diz “amo-te”.



CARVALHO JUNIOR, Francisco de Assis.
Mulheres de Carvalho. Café & Lápis: São Luís, 2011. p. 53.

quarta-feira, 23 de março de 2011

36 prestações de saudade(Gabito Nunes)


“Em alguma outra vida devemos ter feito algo de muito grave
ou ruim para sentirmos tanta saudade”



Dizem que tudo na vida tem dois lados. Um bom e outro ruim. Depende nos olhos de quem está a pimenta. Mas se tem algo realmente ambiguo para uma única alma é um troço chamado saudade. Com ou sem primenta nos olhos. O dito popular é quem melhor traduz a dualidade de uma saudade quando diz que esta é a maior prova de que o amor valeu a pena. Então sentir a falta é bom. E ruim. Em todos os pontos de vista. Vai entender...

Saudade é amar um passado que nos machuca no presente. É uma felicidade retardada. É deitar na rede e ficar lembrando das ardentes reconciliações depois de brigas homéricas por motivos desimportantes. Sente-se falta de detalhes, como uma toalha no chão, dias chuvosos, da cor dos olhos. A saudade só não mata porque tem o prazer da tortura.

Saudade é o amor que não foi embora ainda, embora o amado já o tenha feito. Ter saudade é imaginar onde deve estar agora, se ainda gosta de vinho bordeaux, se chorou com a derrota do Grêmio no campeonato nacional, se tem tratado aquela amigdalite. E quando a saudade não cabe mais no peito, se materializa e transborda pelos olhos.

Sentir saudade é ter a ausência sempre do seu lado. É mudar radicalmente a rotina, comer mais salada e menos sorvete, frequentar lugares esquisitos, ter dias mais compridos, ter tempo para os amigos, para o vizinho e para a iguana do vizinho. A saudade é a inconfortável expectativa de um reencontro.

Às vezes a saudade é tão grande que nem é mais um sentimento. A gente é saudade. É viver para encontrar o olhar da pessoa em cada improvável esquina, confundir cabelos, bocas e perfumes, sorrir com os lábios tendo o coração sufocado. Porque mesmo a saudade sendo feita para doer, às vezes percebemos que ela é o meio mais eficaz de enxergar o quanto amamos alguém, no passado ou no presente.

Por que a saudade é o muro de Berlim desmoronado no chão, capaz de agregar opostos, como a tristeza e a felicidade em uma coisa híbrida. Se você tem saudade é sinal que teve na vida momentos de alegria com ela ou ele! No fim das contas, a saudade que agora lhe maltrata nada mais é que uma dívida sendo paga em longas 36 prestações pelo amor usufruído. Agora aguenta...


Banho-maria (Rosena Murray)


Amor não deve ser mantido
em banho-maria
pois seus poderes
de luz e encantamento
se esvaem neste lento cozinhar.

Amor pede fogo alto
grossas chamas
sol intenso
e muita pimenta.

Amor pede tempero forte
pede tudo em exagero....

sábado, 19 de março de 2011

Crônica de um amor anunciado (Martha Medeiros)





Toda pessoa apaixonada é um publicitário em potencial. Não anuncia cigarros, hidratantes ou máquinas de lavar, mas anuncia seu amor, como se vivê-lo em segredo diminuísse sua intensidade.

O hábito começa na escola. O caderno abarrotado de regras gramaticais, fórmulas matemáticas e lições de geografia, e lá, na última página, centenas de corações desenhados com caneta vermelha. Parece aula de ciências, mas é introdução à publicidade. Em breve se estará desenhando corações em árvores, escrevendo atrás da porta do banheiro e grafitando a parede do corredor: Suzana ama João.

A partir de uma certa idade, a veia publicitária vai tornando-se mais discreta. Já não anunciamos nossa paixão em muros e bancos de jardim. Dispensa-se a mídia de massa e parte-se para o telemarketing. Contamos por telefone mesmo, para um público selecionado, as últimas notícias da nossa vida afetiva. Mas alguns não resistem em seguir propagando com alarde o seu amor. Colocam anúncios de verdade no jornal, geralmente nos classificados: Kika, te amo. Beto, volta pra mim. Everaldo, não me deixe por essa loira de farmácia. Joana, foi bom pra você também?

O grau máximo de profissionalismo é atingido quando o apaixonado manda colocar sua mensagem num outdoor em frente a casa da pessoa amada. O recado é para ela, mas a cidade inteira fica sabendo que alguém está tentando recuperar seu amor. Em grau menor de assiduidade, há casos em que apaixonados mandam despejar de um helicóptero pétalas de rosas no endereço do namorado, ou gastam uma fortuna para que a fumaça de um avião desenhe as iniciais do casal no céu. A criatividade dos amantes é infinita.

O amor é uma coisa íntima, mas todos nós temos a necessidade de torná-lo público. É a nossa vitória contra a solidão. Assim como as torcidas de futebol comemoram seus títulos com buzinaços, foguetório e cantorias, queremos também alardear nossa conquista pessoal, dividir a alegria de ter alguém que faz nosso coração bater mais forte. É por isso que, mesmo não sendo adepta do estardalhaço, me consterno por aqueles que amam escondido, amam em silêncio, amam clandestinamente. Mesmo que funcione como fetiche, priva o prazer de ter um amor compartilhado.


sexta-feira, 18 de março de 2011

Se eu fosse querido! (Gonçalves Dias)



Se eu fosse querido dum rosto formoso,
Se um peito extremoso - pudesse encontrar,
E uns lábios macios, que expiram amores
E abrandam as dores - pudesse beijar;

A tantos encantos minh'alma rendida,
Votara-lhe a vida - que Deus me quis dar;
Constante a seu lado, seus sonhos divinos
Aos sons dos meus hinos - quisera embalar.

Depois, quando a morte viesse impiedosa
Da amante extremosa - meus dias privar,
De funda saudade minha alma rendida
Votara-lhe a vida - que Deus me quis dar.


(De tão dolorida haveria de quedar.)

quinta-feira, 17 de março de 2011

So Long (Cicero Ivo)




Veja bem.
Agente tava precisando conversar.
Rever a vida,
Pôr as coisas no lugar.
Lá fora um mundo
Ta esperando por nós dois.

Eu bem sei.
Que a vida não foi generosa pra nós.
Agente sonha tanta coisa,
Mas depois,
Vê que o sonho derrepente terminou.

E o coração,
Não quer se conformar.
Não usa a razão pra pensar.

E vem a solidão,
Quando não dá mais pra ser.
Agente precisa se resolver.

Antes que o tempo
Acabe pra nós dois.
E não dê mais tempo,
Salvar nenhum de nós.

Nosso sentimento
Durou e foi tão bom
Mas chegou o tempo
De dizer adeus so long.

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* Cicero Ivo, é professor, compositor e poeta Caxiense.


Dando cabo às minhas tormentas (CARVALHO JUNIOR)

hoje vou navegar sem destino
apanhar as rosas dos ventos
como um marinheiro menino
colher flores, fabricar cata-ventos

vou me entregar, ficar ao sol dado
desnorteado pra qualquer rumo vou
seguir luas, vôos de sonho acordado
naufragar numa ilha de profundo amor

hoje às minhas agitações darei cabo
meu coração desancorado afundou
sol contigo minhas tormentas acabo
por teus estreitos meu coração escorregou

tu em meu barco não morro, eu riacho
não me deixa ser um cara velado
nau consigo velejar nesse amor afogado
se eu morrer amanhã em teu braço
hoje mesmo o canal do céu ultrapasso.

*Poema premiado no primeiro FECAPO (Festival Caxiense de Poesia).

quarta-feira, 2 de março de 2011

Aprenda a fazer bonito o seu amor (Artur da Távola)

Talvez seja tão simples, tolo e natural que você nunca tenha parado para pensar: aprenda a fazer bonito o seu amor. Ou fazer o seu amor ser ou ficar bonito. Aprenda, apenas, a tão difícil arte de amar bonito.

Gostar é tão fácil que ninguém aceita aprender.

Tenho visto muito amor por aí, Amores mesmo bravios, gigantescos, descomunais, profundos, sinceros, cheios de entrega, doação e dádiva, mas esbarram na dificuldade de se tornar bonito. Apenas isso: bonitos, belos ou embelezados, tratados com carinho, cuidado e atenção. Amores levados com arte e ternura de mãos jardineiras.

Aí esses amores que são verdadeiros, eternos e descomunais de repente se percebeu ameaçados apenas e tão somente porque não sabem ser bonitos: cobram; exigem; rotinizam; descuidam; reclamam; deixam de compreender; necessitam mais do que oferecem; precisam mais do que atendem; enchem-se de razões. Sim, de razões.

Ter razão é o maior perigo no amor.

Quem tem razão sempre se sente no direito (e o tem) de reinvindicar, de exigir justiça, equidade, equiparação, sem atinar que o que está sem razão talvez passe por um momento de sua vida no qual não possa ter razão.

Nem queira. Ter razão é um perigo: em geral enfeia o amor, pois é invocado com justiça, mas na hora errada. Amar bonito é saber a hora de ter razão.

Ponha a mão na consciência. Você tem certeza que está fazendo o seu amor bonito? De que está tirando do gesto, da ação, da reação, do olhar, da saudade, da alegria do encontro, da dor do desencontro, a maior beleza possível? Talvez não

Cheio ou cheia de razões, você espera do amor apenas aquilo que é exigido por suas partes necessitadas, quando talvez dele devesse pouco esperar, para valorizar melhor tudo de bom que de vez em quando ele pode trazer.

Quem espera mais do que isso sofre, e sofrendo deixa de amar bonito. Sofrendo, deixa de ser alegre, igual criança. E sem soltar a criança, nenhum amor é bonito.
Não tema o romântismo. Derrube as cercas da opinião alheia. Faça coroas de margaridas e enfeite a cabeça de quem você ama. Saia cantando e olhe alegre.

Recomendam-se: encabulamentos; ser pego em flagrante gostando; não se cansar de olhar, e olhar; não atrapalhar a convivência com teorizações; adiar sempre, se possível com beijos, “aquela conversa importante que precisamos ter”, arquivar se possível, as reclamações pela pouca atenção recebida.

Para quem ama toda atenção é sempre pouca. Quem ama feio não sabe que pouca atenção pode ser toda atenção possível.Quem ama bonito não gasta o tempo dessa atenção cobrando a que deixou de ter. Não teorize sobre o amor (deixe isso para nós, pobres escritores que vemos a vida como criança de nariz encostado na vitrine, cheia de brinquedos dos nossos sonhos). Não teorize sobre o amor, ame. Siga o destino dos sentimentos aqui e agora.

Não tenha mêdo exatamente de tudo o que você teme, como: a sinceridade, não dar certo, depois vir a sofrer (sofrerá de qualquer jeito); abrir o coração, contar a verdade do tamanho do amor que sente.

Jogue pro alto todas as jogadas, estratagemas, golpes, espertezas, atitudes sabidamente eficazes (não é sábio ser sabido): seja apenas você no auge de sua emoção e carência, exatamente aquele você que a vida impede de ser.

Seja você cantando desafinado, mas todas as manhãs. Falando besteiras, mas criando sempre. Gaguejando flores.

Sentindo o coração bater como no tempo do Natal infantil. Revivendo os carinhos que instruiu em criança. Sem mêdo de dizer, eu quero, eu gosto, eu estou com vontade.

Talvez aí você consiga fazer o seu amor bonito, ou fazer bonito o seu amor, ou bonitar fazendo seu amor, ou amar fazendo o seu amor bonito (a ordem das frases não altera o produto), sempre que ele seja a mais verdadeira expressão de tudo o que você é e nunca, deixaram, conseguiu, soube, pôde, foi possível ser. Se o amor existe, seu conteúdo já é manifesto. Não se preocupe mais com ele e suas definições. Cuide agora da forma. Cuide da voz. Cuide da fala. Cuide do cuidado. Cuide do carinho. Cuide de você. Ame-se o suficiente para ser capaz de gostar do amor e só assim poder começar a tentar fazer o outro feliz.