segunda-feira, 23 de abril de 2018

O Blog Textos Encantadores e o Mirante da Balaiada




Há quase dez anos, iniciei um trabalho de formiguinha mas que já me trouxe muita alegria e satisfação. O mesmo se refere ao meu blog Textos Encantadores, que nasceu - e amadureceu - quando tive o primeiro contato com os poemas de Wanda Cristina, Oliveira Marques e Adailton Medeiros, fiquei encantada pela poesia maranhense. 

E o orgulho crescia a medida que fui conhecendo a obra de outros autores e poetas como, por exemplo, o célebre autor de a Canção do Exílio e filho da Princesa do Sertão, Antonio Gonçalves Dias. 

Como disse no início, não foi fácil e enfrentei dificuldades para encontrar os livros desses autores, mas não desisti. E os resultados foram aparecendo e incentivando-me a prosseguir; fui colhendo e me alegrando com as conquistas diárias. 

E umas dessas conquistas e que muito têm-me alegrado foi ver o meu blog citado através de uma importante obra criada pela Prefeitura Municipal de Caxias, a qual já expresso o meu agradecimento. E na oportunidade, de forma carinhosa, estendo a minha gratidão sincera ao poeta Carvalho Junior, pela indicação do blog, Textos Encantadores, como fonte de pesquisa das poesias expostas em forma de placas e distribuídas pela trilha do Mirante da Balaiada. Aos poetas Renato Meneses e Wybson Carvalho por terem contribuído para que isso se concretizasse. 

Não poderia deixar de agradecer aos poetas Edmílson Sanches,  Quincas Vilanetto e a minha amiga Antonia Valerio, pela rica e constante ajuda, no projeto "100 Poemas para Caxias", também da minha autoria. 

E ainda, sim, não poderia deixar de lembrar, com afeição, os quase 200 mil visitantes do meu blog, isso impulsiona-me a mantê-lo "vivo". Voltem sempre. 

Enfim, para encerrar, digo -lhes que são 17 placas que ali se encontram, mas o meu agradecimento não poderia  definir. 

Muitíssimo obrigada!!! 


Caxias
(Afonso Cunha)

Caxias Recontada
(Adailton Mediros)

Caxias
(Mário Luna Filho)

Pensando em Ti (Princesa)
(Alberto Pessoa)

A Princesinha
(Carvalho Junior)

Outras Palavras
(Silvana Meneses)

Minha Princesa
(Inês Pereira Maciel)

Tributo à Caxias
(Naum Esteves)

Réquem para Caxias
(Jorge Bastiani)

Tese
(Renato Meneses)

Cacho de Flores
(Wybson Carvalho)

Caxias
(Carvalho Guimarães)

Pedestre
(Isaac Sousa)

Princesa
(Carloman Rocha)

Aldeia
(Cid Teixeira de Abreu)

Terra Minha
(Salgado Maranhão)

Cacho de Flores
(Wybson Carvalho)


domingo, 22 de abril de 2018

Morro do Alecrim (Antônio Gonçalves Dias)





Morro do Alecrim
Antônio Gonçalves Dias

I.

Caxias, como és bela! – no deserto,
Entre montanhas, derramada em vale
De flores perenais,
És qual tênue vapor que a brisa espalha
No frescor da manhã meiga soprando
À flor de manso lago.

Tu és a flor que despontaste livre
Por entre os troncos de robustos cedros,
Forte – em gleba inculta;
És qual gazela que o deserto educa
No ardor da sesta debruçada exangue
À margem da corrente.

Não tens em mole seda oculto as graças,
Não cinges d’oiro a fronte que descansas
Na base da montanha;
És bela como a virgem das florestas,
Que vê nas águas desenhar-se as formas,
Firmada em tronco anoso.

Que monte além se eleva negrejante!
Na areia a base enterra, e o dorso ingente
De rija pedra mosqueado amostra;
Estéril como ele é, dizer parece
Que a ira do Senhor ardendo em raios
A seve d’hartos troncos – de mil anos
Apagou – consumiu – num breve instante.

Mas não; a rubra cor que aí se enxerga
É sangue que correu;
Cada pedra que i jaz encerra a história
D’um bravo que morreu.

E raios mil de guerra em morte envoltos
Já lá do cimo agreste da montanha
Sibilando e gemendo à funda base
Baixaram sussurrando.

É do povo o Sinai, que o nobre sangue
Independente e forte – em lide acesa
Na arena derramou;
E o filho inda lá vai cheio de orgulho,
Do pai beijando o sangue em largos traços
Que a pedra conservou.

II.

E quando alva lua no céu vai brilhando
O disco formoso luzente mostrando,
Então quando as ondas mais vívidas crescem
E mais contra a praia a bramir se enfurecem;

Descendo das nuvens ao monte orgulhoso
Infausta se amostra sinistra figura,
Mais negra que as trevas, que fora pasmoso
Ser esse fantasma de humana natura.

E quando é que se vê? – Quando nos bosques
A flor mais puro seu perfume exala,
Quando nas folhas o sussurro morre,
Quando das aves o gorjeio para.

Quando imundo tatu na concha envolto
Vai de manso volver minada campa,
E a coruja sedenta a luz dos mortos
No fronteiro pano da muralha estampa.

Desde quando aparece? – Ninguém sabe,
E talvez apareça sem ter fim;
Só um em cujo peito horror não coube
Já do fantasma a voz ouviu assim.

Manitô – Manitô – cobriste o teu rosto
Com denso velâmen de penas gentis;
E jazem teus filhos clamando vingança
Dos bens que lhes deste da perda infeliz!

Manitô – Manitô – descobre o teu rosto,
Bastante nos pesa da tua vingança;
Já lágrimas tristes choraram teus filhos,
Teus filhos que choram tão grande mudança.

O triste Anhangá de mui longe nos trouxe
Filhos de Tupã, essa raça danada,
Em vão deu-lhe of’rendas o Piaga divino
Tocando a maraca na dança sagrada.

Em vão neste monte lhe veio ofertar
A pel’maculada de tigre raivoso,
E frutos, e frutas – e a pel’cambiante
Da Boa vistosa de corpo pasmoso.

Manitô – Manitô – cobriste o teu rosto
Com denso velâmen de penas gentis;
E jazem teus filhos clamando vingança
Dos bens que lhes deste da perda infeliz.

Teus filhos valentes, temidos na guerra,
No albor da manhã quão fortes que os vi!
A morte pousava nas plumas da frecha,
No gume da maça, no arco tupi.

E hoje em que apenas a enchente do rio
Cem vezes hei visto crescer – abaixar…
Já restam bem poucos dos teus qu’inda possam
Dos seus, que já dormem, os ossos levar.

Teus filhos valentes causavam terror[.]
Teus filhos enchiam as bordas do mar,
As ondas coalhavam de estreitas igaras
De frechas cobrindo os espaços do ar.

Já hoje não caçam nas matas tão suas
A corça ligeira – o trombudo coati.
A morte pousava nas plumas da frecha,
No gume da maça – no arco tupi.

O Piaga nos disse que breve seria,
Manitô, dos teus a cruel punição;
E os teus inda vagam por serras, por vales,
Buscando um asilo por ínvio sertão!


Manitô – Manitô – descobre o teu rosto,
Bastante nos pesa da tua vingança;
Já lágrimas tristes choraram teus filhos,
Teus filhos que choram tão grande tardança.

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Segundo o escritor Edmilson Sanches, o poema “O Morro do Alecrim”, apareceu apenas na edição de 1846 dos "Primeiros Cantos" gonçalvinos, na parte das "Poesias Americanas", sendo, nas edições seguintes, em parte suprimido, em parte desdobrado em dois outros poemas bastante lembrados: “Caxias” e “Deprecação”.

Referência: Camilo, Vagner. Revoltas provinciais: testemunhos poéticos.  Consulta feita no site file:///C:/Users/Usu%C3%A1rio/Downloads/123337-242842-1-PB%20(2).pdf


sábado, 21 de abril de 2018

Homenagens de João do Vale para Caxias





Vou pra Caxias 
(João do Vale e Ari Rangel de Sales/ Gravada por Ary Lobo)

Não adianta
Aqui não fico
Vou pra Caxias
onde está seu Alderico.

Vou passear lá na praça da Matriz
Vou tomar cana 
Tira gosto com caju
Vou lá ponte tomar benção a Santo Antônio
Vou tomar banho no Rio Itapecuru.

Não adianta
Aqui não fico
Vou pra Caxias 
onde está seu Alderico.
Quero ver o baixo da Siriema
Quero ver o Riacho São José
Lá na Veneza sei que tá uma beleza
Vou ver Getúlio meu amigo de fé.

Não adianta
Aqui não fico
Vou pra Caxias 
onde está seu Alderico.

Grande festa do Senhor São Benedito
O Glorioso padroeiro do lugar
Pé da ladeira terra de moça faceira
Doutor Aldenir muito em breve estou por lá

Não adianta
Aqui não fico
Vou pra Caxias 
onde está seu Alderico.

A Miloquinha com seu corpo de sereia 
Eu quero ver na piscina se banhar
Mis universo perto dela fica feia
Quem duvida vá ver de perto pra confirmar.

Não adianta
Aqui não fico
Vou pra Caxias
onde está seu Alderico.





De Teresina a São Luis

(João do Vale)



Peguei o trem em Teresina

Pra São Luiz do Maranhão

Atravessei o Parnaíba

Ai, ai que dor no coração.

O trem danou-se naquelas brenhas
Soltando brasa, comendo lenha
Comendo lenha e soltando brasa
Tanto queima como atrasa
Tanto queima como atrasa.

Bom dia Caxias
Terra morena de Gonçalves Dias
Dona Sinhá avisa pra seu Dá
Que eu tô muito avexado
Dessa vez não vou ficar.

O trem danou-se naquelas brenhas
Soltando brasa, comendo lenha
Comendo lenha e soltando brasa
Tanto queima como atrasa
Tanto queima como atrasa.

Boa tarde Codó, do folclore e do catimbó
Gostei de ver cabroxas de bom trato
Vendendo aos passageiros
"De comer" mostrando o prato.

O trem danou-se naquelas brenhas
Soltando brasa, comendo lenha
Comendo lenha e soltando brasa
Tanto queima como atrasa
Tanto queima como atrasa.

Alô Coroatá, os cearenses acabam de chegar
Pra meus irmãos uma safra bem feliz
Vocês vão para pedreiras e eu vou pra São Luis.

O trem danou-se naquelas brenhas
Soltando brasa, comendo lenha
Soltando brasa, comendo lenha
Comendo lenha e soltando brasa
Tanto queima como atrasa
Tanto queima como atrasa.




___________

Referência Bibliográfica: SANCHES, Edmilson. Folha do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias - IHGC. Edição Especial: Dezembro de 2017.


MINHA TERRA (Chico Beleza)




Passaram muitos anos e eu aqui cheguei,
Não era minha terra nem o meu lugar;
Passaram muitos anos e eu aqui cresci,
Essa é minha terra, esse é o meu chão!
Andando pelas ruas desta meiga cidade,
Onde eu comecei a dar os meus primeiros passos!

Terra, terra do amor...
Caxias, cidade linda,
Teu cheiro é de flor!

Na Praça (de) Gonçalves Dias, eu também passeei;
No Largo de Santa Luzia, eu também joguei;
Na Festa de São Benedito, eu também brinquei.
Caminhando um pouco mais, na Veneza eu me banhei...
Mergulhei até o fundo: eu me “lamiei”!

Terra, terra do amor...
Caxias, cidade linda,
Teu cheiro é de flor!

Gostaria que tivesse tudo quando aqui cheguei,
Mas essa terra não tem dono, essa terra não tem rei!

Terra, terra do amor...
Caxias, cidade linda,
Teu cheiro é de flor!


                                             (CHICO BELEZA, do CD/DVD comemorativo 25 anos - "Paixão")
Fotografia: Elton Rabêlo