quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Jornal do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias (IHGC)

Meu blog Textos Encantadores foi citado no Jornal do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias, dezembro de 2017. Gostaria de agradecer meu amigo Edmilson Sanches pelo presentão de Natal.






Jornal do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias (IHGC)



JORNAL TRAZ INFORMAÇÕES INÉDITAS SOBRE CAXIAS

O jornal do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias (IHGC), na sua edição especial de dezembro, mês de aniversário da instituição, traz um conjunto de informações inéditas sobre o município de Caxias. O jornalista Edmilson Sanches, diretor do Instituto e editor da “Folha do IHGC”, revelou ao Portal Sinal Verde algumas dessas informações.

CAXIENSE É PIONEIRO EM FILME SERIADO NO BRASIL -
Uma das principais revelações tem a ver com o pioneirismo de um caxiense em todo o Brasil: o escritor Coelho Netto também foi cineasta e, mais do que isso, foi o pioneiro em todo o Brasil na realização de filmes seriados. Exatamente há 100 anos, em 1917, o escritor caxiense escreveu o roteiro e dirigiu o filme “O Tesouro do Viking”, que era parte do filme seriado “Os Mistérios do Rio de Janeiro”. O filme estreou na capital carioca e também foi exibido em São Paulo. A indústria de filmes, novelas e programas em série ou seriados movimenta bilhões de dólares anualmente em todo o mundo. Caxias está presente também em filmes como “A Faca e o Rio” (1972), do holandês George Sluizer, e a animação “Uma História de Amor e Fúria” (2013), do paulista Luiz Bolognesi, que ganhou para o Brasil, pela primeira vez, o maior prêmio mundial do gênero, na França.

CAXIAS NA MÚSICA - O jornal traz também exemplos da presença de Caxias na música popular brasileira. Além das conhecidas composições de João do Vale “De Teresina a São luís” e “Vou pra Caxias”, cantadas, respectivamente, pelo pernambucano Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, e pelo paraense Ary Lobo, a Princesa do Sertão Maranhense é tema de canções da cearense Eliane, a Rainha do Forró, com “Quero Voltar pra Caxias”, do conjunto musical caxiense Hermógenes Som Pop, com a “Melô do Ponte”, dos cantores e compositores caxienses Chico Beleza (“Minha Terra”), Carloman (“Xote pra Caxias” e “Terra da Poesia”) e Naum Esteves, com “Tributo a Caxias” e “Amor pra mais 200 Anos”.

"ORDEM E PROGRESSO" - O jornal revela ainda que o poeta caxiense Gonçalves Dias pode ter escrito, seis anos antes do francês Auguste Comte, a frase que se tornaria o lema da Bandeira do Brasil, “Ordem e Progresso”.

SPIX E MARTIUS EM CAXIAS - Também, nos 200 anos (1817-2017) da “viagem pelo Brasil” dos cientistas alemães Carl von Martius e Johann von Spix, o jornal detalha como foi a passagem desses mundialmente ilustres estudiosos pela Vila de Caxias, já naquela época considerada ”uma das mais florescentes vilas do interior do Brasil”, segundo anota von Martius, que, doente, foi muito bem atendido em Caxias por médico formado na Escócia.

"UMA CIDADE DE CIDADES" - A “Folha do IHGC”, edição nº 11, com data de capa de 12/12/2017, lista ainda diversas cidades maranhenses e brasileiras que, na sua constituição ou desenvolvimento, tiveram influência de Caxias e de filhos caxienses ou de pessoas e famílias que aqui residiram. Segundo o jornal, “Caxias é uma cidade de cidades”.

LABRE, LÁBREA - Outra informação inédita é “a história do militar, enterrado em Caxias, que desbravou a Amazônia e construiu uma cidade”. Trata-se do coronel maranhense Antônio Rodrigues Pereira Labre, que navegou pelo rio Purus, na Amazônia, e fundou a cidade de Lábrea, no estado do Amazonas. O escritor Euclides da Cunha coloca o coronel Labre entre os “homens abnegados”, ao lado de grandes exploradores, brasileiros e estrangeiros.

A edição especial da “Folha do IHGC” tem 12 páginas e traz diversas outras notícias e informações e pesquisas, entre elas um artigo sobre os logradouros (ruas, avenidas, praças) históricos de Caxias; as homenagens póstumas ao professor Manoel de Páscoa Medeiros Teixeira (Prof. Passinho); a reforma da sede do Instituto; as homenagens em vida a duas mulheres centenárias, a lavradora Maria de Jesus Ferreira e a líder espiritual Maria Madalena Carvalho, a Maria Fininha.
Interessados podem adquirir o exemplar da “Folha do IHGC” na sede do Instituto, na antiga Estação ferroviária. Na próxima semana, o jornal será também vendido em bancas de jornais e revistas da cidade.

___
Foto: A "Folha do IHGC", de dezembro de 2017. (foto de Jorge Eugênio da Silva Gonçalves)

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

100 Poemas para Caxias - Parte 4





TORRÃO 
(Salgado Maranhão)

Volto a ti, Caxias, 
para lavar meus olhos
sujos de ventos 
e de maresias. 

E vejo que houve 
Incêndios
sobre o teu
nome; e vejo 
teus heróis reclusos 
no horizonte ermo. 

A quem pergunto
sobre os teus medos? 
Que cães roeram
a tua memória?

Vasculho no pó 
dos becos
as fundações 
do meu DNA, e grito 
à noite guardiã
da cidade anônima, 
e só ouço o ontem
a bater a porta. 

Ó princesa anciã dos
meus sertões, me ensina a vestir
tua nova grife! 

_______________


CANÇÃO DO EXÍLIO
(Gonçalves Dias)

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar - sozinho, à noite -
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

_______________

Laranja Lima (Balaios de Caxias)
(Carloman Rocha) 


Uma cidade nordestina
Um olhar de menina, um ben-te-vi, um sabiá
Os dois cantando em um pé de laranja lima
Ai quem me dera está lá em cima para o mundo espiar.

Vou fazer minha morada
Em uma curva da estrada que me leve para o mar
Lá no mar sou pescador sem rede de arrastão
Lá na mata caçador sem tiro e sem rojão
Na cidade, professor, gosto de contar Histórias. 
de batalhas e memórias da civilização 

Essa cidade é minha, essa cidade é sua
E tem um rio que agoniza
E um povo que é herói de muitas vidas
E apesar das lástimas da guerra
Dos desmandos, dos desgovernos
Ainda faz festa e sobrevive. 

Um ben-te-vi pra cantar
Um Ben-te-vi pra guerrear
Um balaio pra guardar
Um Balaio pra guerrear
Uma cabana pra morar
Um Cabano pra guerrear.

_______________


HINO DE CAXIAS
Letra: Teodoro Ribeiro Júnior
Música: Elpídio Pereira 

*****

Clara estrela no céu maranhense, 
Lira flébil do meigo cantor,
Tua luz outra estrela não vence,
Nem a lira mais cheia de amor.
Vamos juntos no albor destes dias,
Os louvores cantar de Caxias. 

És a virgem toucada de rosas,
Que te miras nas águas do rio,
De onde as ninfas sutis, invejosas,
Vêm beijar-te o perfil erradio.
Vamos juntos no albor destes dias,
Os louvores cantar de Caxias. 

Broquelada na paz tu trabalhas,
E na paz confiada descansas,
Mas não temes o fragor de batalhas,
Quem já trouxe a vitória nas lanças.
Vamos juntos no albor destes dias,
Os louvores cantar de Caxias. 

Não criaram teus seios escravos,
Bentos seios do alvor da Camélia,
Que nós somos unidos e bravos.
Filhos gracos da nova Cordélia.
Vamos juntos no albor destes dias.
Os louvores cantar de Caxias.

Glória! Glória! As façanhas proclamem,
Da princesa do adusto sertão,
Cuja fama e valor se derramam,
Pelas terras do audaz Maranhão.

Vamos juntos no albor destes dias, 
Os louvores cantar de Caxias.

__________________________

CAXIAS 
(Artur Leite)

Junho. Manhã formosa. O sol nascente
Redoura as torres da Matriz, radiante.
O orgulho fulge, em pérolas, tremente,
Nas folhagens da mata deslumbrante.

Flutua no ar, nas margens da corrente,
Que me conduz para um lugar distante
Um suspiro de amor, longo, dolente
Nos anseios de um sonho alucinante.

E deixo, enfim, partindo, as melodias,
Que derramavas em minh'alma, outr'ora,
Saudosa amada,plácida Caxias.

Somem-se atrás... a velha ponte em frágoas,
O morro do Alecrim, que te namora,
Entre os beijos e cânticos das águas.

__________________________________

AMOR PRA MAIS 200 ANOS
(Naum Esteves)


É amor pra mais 200 anos, é amor!
É paixão, é alegria, é muito amor por Caxias

Só quem conhece e quem mora aqui,
Sabe como é
Esse amor que pulsa forte em nós
Seja homem, menino ou mulher.

Caxias dos seus casarões
Dos sobrados, dos poetas
Do bumba-boi, da quadrilha
Do povo fazendo festa. 

Caxias de tantas histórias
De tantas glórias é assim
Caxias do Itapeucuru
Do Morro do Alecrim.

Caxias de tantas riquezas
De beleza natural
Da Veneza água cristalina
Do sino da Catedral.

Caxias de gente de fé
De coragem e devoção
Caxias eu te amo tanto
Pra você meu coração.

___________________

CAXIAS - MARANHÃO DAS BELEZAS 
(José Armando Rodrigues de Sousa)


Caxias és cheia de
grandeza 
Caxias tu tens a 
grande Veneza 
Caxias és magnífica 
e exuberante 
Caxias tu tens o 
riacho do ponte. 

Caxias de passado
sem fim tu tens 
o famoso morro do alecrim
Caxias ninguém
quebra teu pedestal
tu tens uma linda catedral 

Caxias de histórico
patrimônio
tu tens a linda
igreja de Santo Antônio 
Caxias de beleza e 
passado infinito
tu tens a igreja de
São Benedito 

Caxias de belas
igrejas e paisagens
tu tens tantas lindas mensagens 
Caxias de belos poetas
e sonhadores 
tu tens em teus seios
muitos amores 

Caxias das matas e 
grandes brios 
tu tens no Itapecuru 
o grande rio 
Caxias és cheias
de belezas naturais 
teu nome não esqueço jamais.


https://youtu.be/6p1se28Bx3U



Quero Voltar Para Caxias - Eliane
Música do álbum "Cantando Para Vida" de 1985

LETRA

Maranhão é uma terra boa
Brevemente eu irei voltar
Vou rever aquela gente amiga
Que eu deixei a me esperar

Tantas coisa boas lá eu vi
Breve eu irei ver de novo
Gosto de ti Maranhão
A minha alegria é estar com teu povo
Gosto de ti Maranhão
A minha alegria é estar com teu povo

Ai, ai Maranhão, me deste prazer e alegria
Ai, ai Maranhão, eu quero voltar pra Caxias
Ai, ai Maranhão, me deste prazer e alegria
Ai, ai Maranhão, eu quero voltar pra Caxias


quarta-feira, 27 de setembro de 2017

10 poemas de Déo Silva*







"A palavra, 
em verdade,
é funda em si mesma.
Raso, contudo,
é o nosso poder
de entendê-la."
(Déo Silva)


Revelação

Dentro do poema estou.
Não sob formas tênues e 
claras. Não como uma frustração impronunciável
que o tempo dissolve no ar, ou como
uma paisagem fácil, que degrada os espelhos.
Não apenas cheio de vivências íntegras
e com a palavra inútil em sua lógica.
Mas, oculto e denso, 
na mutação que sou de mim mesmo. 


O muro

O naufrágio do muro é o vermos como tal. O muro, antes que se o edifique (e o muro há de ficar sem muro) já o é. O relevo do muro é ignorar-se, e seu desastre é estar com o ar que lhe degrada o puro. O puro puro. O vocábulo corrompe o muro. O muro que ficou no mundo exigindo uma flauta. 


Árvore

A árvore paradoxal
na sala
chora fogo e neve

Ventos de terras esquecidas
não a sopram 
porque
em dezembro
as janelas não se abrem para
o abismo

A árvore paradoxal
só constringe
o menino sem estátua
sem rio
sem fruto

Mas extasia o mundo.


Sábado de cinzas

Estas paredes,
amadurecidas em sua dura inércia,
assistem ao escurecer do século
e o seu desespero cresce
no prenúncio amargo dos relógios.
Sábado de cinzas:
os homens querendo pisar em Deus. 


Perspectiva de um exercício

Eis o de quanto, agora, preciso,
para meu encanto:
abrir a palavra
até descobrir-lhe
o núcleo fundamental
e, depois,
semeá-la numa terra sem memória
de que flores verbais
se abrirão, um dia,
a desprender
o olor
de uma estranha primavera.

Abrir a palavra
que ficou longe,
em seu misterioso concreto
e desvendar,
no imo tônico do verbo,
a verdade agônica
de um desejo
que seja, sobretudo, eterno.

Abrir a palavra
que eu não tenho agora
e de que a alma se nutre
para o ânimo da fantasia.

Abrir, enfim, a palavra
de que nasce
o fruto humano de cada dia,
para o fenômeno

da poesia.


Do pássaro em que voo

O meu pássaro de prata
se deslumbra, com a intacta
existência do seu fim.

Não finge o voo. Só o intenta,
quando a esfinge, que o sustenta,
se abre em volta de mim.

O meu pássaro de prata
da essência não se aparta
que o move em minha mão.

No entanto, fosse possível,
para torná-lo sensível,
dar-lhe o canto. O voo, não.


Lado inútil 

Tua infância é muita,
para o que envelhece,
dentro do absurdo
que me torce e tece.

Tua infância é pouca,
para o que me cabe.
(E que a vida seja
o que, em mim, não sabe).


Ensaio sobre a porta


Perto da porta está o abismo.
A porta – exausta do caos que a fecha – dá-se em desespero
e seu imaturo silêncio cresce nas muralhas. 
A porta, sem a ruína que a espera e a espreita, é o flagelo de 
quem a abre.
A porta é o começo real de tudo quanto fica, pois sua viagem 
válida é inventar caminhos para o Homem.
Se amadureço no verbo, (onde aporto) descubro, na porta, mais
do que uma porta: um porto. Porto donde parto para o acontecimento, 
aquele em que sou a volta de um longo desperdício.
A porta, fora da lógica e do que a torna plena e plana, é a origem 
da solidão que a move, fechando-a.
A porta existindo indefinidamente está e razão é que a observemos. 


A bailarina

Enquanto ela dança, (e a ideia do sexo lhe baila na mente) sua
imaginação a coloca num plano respeitavelmente indecifrável.
Não há, em si, o caminho, senão a volta, e seus vestígios são a 
continuação de uma fuga.
A bailarina se alça fora do equívoco e encanta-nos, perdendo-se
na circunferência que a prende.

Banquete

Eis o pão
de que necessitas,
para o alimento
do dia eterno:

a fome de invadir
o mistério global.




Raymundo Nonato da Silva (DÉO SILVA), poeta e jornalista brasileiro, nascido em Caxias-MA, em 15 de agosto de 1937. Descendente de tradicional família maranhense, é filho de Jefferson Antonio da Silva e Aracy Carneiro da Silva. Sobrinho do casal Alderico e Dinir Silva. Entre títulos inéditos, publicações em vários suportes literários, é o autor dos livros de poemas “Ângulo noturno” (1959) e “Equação do verbo” (1980). Este 27 de setembro de 2017 marca 34 anos de seu falecimento físico. 


___________
Fonte: 
Seleção/organização dos textos realizada pelo professor, pesquisador da obra de Déo, Carvalho Junior

Imagens: 
Foto cedida ao professor Carvalho Junior pelo filho mais novo de Déo Silva, Welter Cantanhêde, modificada com recursos de computador. 


sábado, 23 de setembro de 2017

Tabocas & versos: novas reações/resistências à ameaça de descaracterização do Morro do Alecrim

 


ALECRIM DESFIGURADO
/// Íris Mendes///


A Balaiada feriu o povo
e tombou a liberdade.
O morro foi tombado!
Ao silêncio dos canhões, sobre o sangue derramado, 
cresceram flores.
Aí erigi canções.
Mas eis que rugem os tratores.
Morro desmatado, morro matado.
Protestam agora os violões 
porque nos violam os vilões.
O morro é tombado!
Projetas sua queda
e tombam os corações dos poetas
a esse tiro de um tirano canhão acordado.
Acordam os poetas!
Suas vozes erguem-se em guerra:
"O morro é tombado!"
As violas cantam essa canção.


_______________________________________

OS POETAS E SEUS CANHÕES 
/// Mohammed Branca Viana Hassam///



Do canhão 
Clarão 
Corpos nus
No chão 
Luta diária 
Sem chão 
O protesto 
É minha voz 
Os poetas e seus canhões 
Soltando verbetes, fazendo clarões
A guerra só começou!


_______________
Fonte:
Seleção e organização dos poemas: Carvalho Junior
Fotos retiradas do Facebook de cada escritor

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Tabocas & Versos: 5 poemas em resistência à ameaça de descaracterização do Morro do Alecrim


                                    

BALAIOS DE SOLUÇOS
///Carvalho Junior///


flecha de mágoas-vivas, corpo de tabocas órfãs,
sou carvão desprezado no alto da ladeira
(o)fendida pela lâmina de silêncios suicidas.

o sonho resiste ao fogo, ao cuspe tóxico dos
homens-cinza e à pedra não lapidada dos
autodidatas da futilidade.

tudo morre diante dos nossos olhos:
o morro, a história, a lucidez...
as borboletas sobreviventes marcham sobre os
balaios de soluços que explodem no jardim. 


___________________________________

A TERCEIRA “GUERRA” DO ALECRIM
///Edmilson Sanches///


“Ímpios sem crença, e precisando tê-la,
Assentastes um ídolo doirado
Em pedestal de movediça areia;
Uma estátua incensastes [...]
Da política, sórdida manceba “

(Gonçalves Dias, “À Desordem de Caxias”, IV, 
in Poesia Completa e Prosa Escolhida, p. 551,
Rio de Janeiro: Editora José Aguilar, 1959) 


E eis que lá no alto do Morro trava-se nova batalha
-- não é mais Alecrim, Duque, nem é contra Fidié: 
é luta por causa histórica, onde a verdade assoalha
para o Morro não deixar de ser a Memória que é.

Esse Morro onde habita a História sem fim
e também onde o poeta sua musa canta
pode não mais ser nosso Morro do Alecrim
para ser -- e muito mais -- “o morro da santa”.

Querem (im)por uma estátua no alto do Morro do Alecrim,
onde a escultura é desnecessária, quiçá conflituosa.
Há opções de valia -- entre elas o Morro do Barata, sim,
onde, com Fé, renderemos graças à Maria Virtuosa.

Filhos da terra que dizem respeitar a História,
detentores transitivos do volátil Poder,
abusam da condição, desrespeitam a Memória,
louvam a si mesmos por trás da Santa enaltecer.

Estátua, substantivo sem vida nem rima.
Colocá-la bem no Alecrim é turbação.
À essa obra no alto do Morro, lá em cima,
a Santa pede e quer contrição, oração.

Pois é no interior de cada um que se constrói a devoção
e se a confirma na Fé, no Trabalho, no Amor, na luta contra o Mal,
com decência suprindo o povo carente não só de fé, mas de pão
acompanhado de boas doses de ética, fraternidade, moral.

O próprio Deus escolheu o íntimo do ser humano como templo
quando poderia, fácil, por outros meios fazer-se representar.
E certos humanos, incrédulos, desapegados desse exemplo,
o que fazem para a Deus -- na verdade, a si mesmos, ímpios -- louvar?

Em sítio histórico de Caxias quer-se erguer estátua religiosa;
fazer estátua não só porque os feitores tenham fé, convicção ou crença:
quer-se fazer estátua porque estão, breves, no Poder – coisa perigosa –,
senão teriam construído com humildade, sem alarde ou desavença.

Se têm contas a prestar com a Santa,
se co’ ela têm promessas a pagar,
por que, humildes, como quem ora e canta,
não fazem a estátua em outro lugar?

Digam: Por que foram mexer logo com a Virgem Santa?
Por que assumiu a obra e depois sumiu o Público Poder? 
Porque quem tem fé sabe que à Fé incomoda e espanta
o fazer questão de anunciar ao mundo o seu fazer.

Receberam uma dádiva -- dinheiro, poder, vitória, eleição --
e, cumpridores, querem agradecer com uma o que a outra mão pediu?
Então, munam-se, assim, de reserva, recato, humildade, contrição,
e não se preocupem se todo mundo no mundo todo vê, ou viu.

Pague-se sua promessa sem excessos, ou soberbia, com discrição,
--- pois santo que é santo não precisa de alto-falante para sê-lo.
A Santa, sobretudo porque virginal, materna, estenderá a mão
e grata ficará pela prudência, contenção, amor, fé e zelo.

Basta de revolverem-se as pedras do Morro e sua memória;
cada uma delas é um patrimônio que é nosso, que é seu.
Diz o Poeta: “Cada pedra que i* jaz encerra a história”,
história valente, corajosa, “dum bravo que morreu”.**

Nessas pedras há sangue, há dor, há ideal e há liberdade,
e essa luta, só o Morro do Alecrim deve ser o lugar dela.
Assim, porque soterrar mais ainda a História, quando, de verdade,
há outros lugares para a santa escultura e o que vier com ela?

O caxiense Teixeira Mendes, a partir do Rio de Janeiro,
iniciou uma luta, fez a lei e finalmente conseguiu
separar Igreja de estado -- pois a Fé, valor verdadeiro,
não deve ser obrigação constitucional no Brasil.

Mas o que um caxiense faz para todo o País outros desfazem em casa.
De modo exposto ou escondido, verbo e verba em variados expedientes,
interesses pessoais são mantidos, decisões e descaso ganham asa
...e História e Patrimônio caxienses -- sim, ruindo -- cada vez mais doentes.

Depois de portugueses e balaios,
que “mato” e “morro” não tornem a verbos
nesta terceira “guerra” do Alecrim;
que sejam o que são: só Natureza
e História, ambas com seu espaço e beleza,
cumprindo em Caxias seu elevado fim.


Sine ira et studio.


(*) O mesmo que aí.
(**) “Cada pedra que i jaz encerra a história” e “dum bravo que morreu” são respectivamente o terceiro e o quarto versos da segunda estrofe da primeira parte do poema “Morro do Alecrim”, de Gonçalves Dias (in Poesia Completa e Prosa Escolhida, p. 527, Rio de Janeiro: Editora José Aguilar, 1959).


___________________________________


MORRO DE SAUDADES DO ALECRIM
///Isaac Sousa///


Morro de saudades do alecrim.
Morro e teu perfume jaz em mim.
Como um velho feiticeiro
Que invoca pássaros de fumaça.

Morro sete vezes sem perdão
Nas encruzilhadas da canção,
Onde o velho feiticeiro vem
modelar morcegos enevoados.

Nas ruínas gemem ossos litium
Dos tabocais plantados no infinito.
E o poeta em seu cigarro escreve
Suítes de metal e de fantasmas.

___________________________________

EM GUARDA 
///Jorge Bastiani/// 



Sei que nunca é chegada a hora de dizer 
adeus.
Também não há hora para se despedir.
Nasci ouvindo histórias,
Até mesmo de assombros 
Sobre sombras que
Pernoitamos essas paragens do Morro. 
Agora ouço passos, de novo, 
Acordando tudo – de novo! –
Para mais uma
Nova batalha. 

___________________________________

SÃO RUÍNAS NOSSAS
///Quincas Vilaneto///




Não preciso consultar a bússola
nem tampouco o gandula da fé,
todo o meu chão pode ser visto 
à medida que se rabisca nele 
e a memória permanece de pé. 

Não preciso de uma outra história 
criando uma estética às avessas, 
as coisas que realmente nos interessam, 
devem ser mais do que borras de hóstias. 

Não tenho nada contra a religiosidade 
nem me interessa o conteúdo da promessa, 
só não creio que seja moderno 
juntarem-se pios com os céticos 
e destruir todo um passado impresso.



_______________
Fonte:
- Seleção e organização dos poemas: Carvalho Junior 
- Fotos retiradas do Facebook de cada escritor




"Ímpios sem crença, e precisando tê-la,
Assentastes um ídolo doirado
Em pedestal de movediça areia;
Uma estátua incensastes […]
Da política, sórdida manceba “



(Gonçalves Dias, “À Desordem de Caxias”, IV, 
in Poesia Completa e Prosa Escolhida, p. 551,
Rio de Janeiro: Editora José Aguilar, 1959)

terça-feira, 5 de setembro de 2017

100 Poemas para Caxias - Parte 3


Fonte: Google Imagens



CAXIAS
(João Fonseca Maranhão)

Caxias, minha eterna namorada.
Jamais te esquecerei, terra querida!
Vejo-te nos meus sonhos retratada,
nos momentos de dor de minha vida.

Não és, por certo, uma ilusão perdida:
És saudade em minh'alma encastelada,
Flor dileta de mim nunca esquecida,
Poema de luz em noite enluarada.

O teu céu, luminoso, cintilante,
Sereno, dum azul resplandecente
É, que sempre me acena para adiante.

Mesmo de longe, tenho-te bem perto;
Terra querida, sabiá dolente,
Juntos sonhamos um porvir incerto.

___________________________

CAXIAS
(Bráulio Mangabeira)

Terra sagrada de Gonçalves Dias,
sagrado berço de Coelho Neto,
tu me fazes sentir as harmonias
que na minh'alma não encontram veto.

Hás de ser sempre a vívida Caxias,
virtuosa, suprema, de ar correto.
És a mais bela das topografias
feitas por Deus, em lúcido projeto.

Tu me fazes viver de alta ventura...
me fazes esquecer ágra tortura
que d'outas terras na minh'alma tranco.

És um conjunto de elevadas artes!
meu coração fechado n'outras partes,
só teu seio rútilo destranco.

___________________________

ALDEIA
(Cid Teixeira Abreu)

Trezidela
Tresidela

Três Aldeias
ou
trás d'ela.

_________________________

EXALTAÇÃO A CAXIAS
(José do Espírito Santos Nascimento)

Tu és linda ó Caxias - formosa realeza!
és altiva, gloriosa e inspiradora, ardente,
tu és repositório excelso da natureza - 
berço de quem tem vida e canta o que a alma sente.

Tuas águas cristalinas, límpidas, refletem
os teus céus que se ornam de belos coloridos
e os cenários de glórias que se não repetem,
guardam tuas tradições nos campos bem floridos.

Tu és o sol bendito que aquece e ilumina,
a lua que embeleza as noites varonis,
a fonte aureolada, pura e tão divina,
que orienta o taciturno e guia o infeliz.

Tu és do sertão a Princesa consagrada,
da Atenas maranhense, orgulho e tradição,
do Brasil grande e forte, és terra sublimada
e do humilde Nascimento, és natal torrão!

Teus filhos te adoram com devoção e amor,
por seres da mãe de Deus a terra abençoada
as visitas te amam, ó fonte de esplendor!
pois és por Jesus Cristo assim purificada.

És repositório de alegrias e ternuras,
berço instimável de fé e de virtude,
onde tuas filhas nobres, santas e tão puras,
deleitam-se a comtemplar da paz e quietude.

És estrela que fulge, ó invicta Caxias!
bela, esplendorosa, nos céus da cor de anil,
és fonte inesgotável de amor e poesia,
que eleva, incentiva e ilumina o meu Brasil!

És de todo maranhense a gleba dileta,
que guarda as tradições de um passado glorioso,
és fonte de esperança, onde a alma do poeta
recebe a inspiração em tom harmonioso!

Tuas palmeiras se elevam lindas e garbosas,
altivas e altaneiras, além na amplidão,
e são marcos das tradições belas, gloriosas,
que te consagram - " Princesa do Sertão".

És, enfim, Caxias querida, a terra santa,
que se reveste de amor, de sonho e esperanças,
como um astro puro que rebrilha e que encanta,
no infinito sereno e azul de nuvens mansas.

E eu contemplo extasiado, a bela formosura
que orna todo o esplendor de tua grande riqueza,
qual brilhante no colo de uma noite escura,
iluminando com sua luz a natureza.

Serei teu servo humilde e filho generoso,
co'afeto e grande amor por tua propriedade,
lutando co'ardor pelo nome valoroso
com que foste premiada por tua dignidade.

Se algumdia tu fores pela guerra ameaçada,
e se estiveres mergulhada em solidão,
terás firme e coeso, ao teu lado, ó terra amada
o filho que te ama de todo coração.

Hei de te ver sempre formosa e encantadora,
cantando as epopéias de tua tradição - 
e beijando a tua fronte pura sedutora - 
ó rainha da esperança - estrela da nação!

Junto ao teu bom povo eu serei sempre feliz,
porque ele possui da bondade o amor e a luz,
que ilumina e reanima as almas varonis,
conduzindo-as, firmes, aos páramos azuis.

_________________________

APELOGIA 
(Walter Berg)

A noite chega, o dia foge.
A Cidade dorme e acorda,
Reclama, sem consolo.
Os gentios fogem,
Do dever de cuidar,
Manter viva na memória,
Cuidar da fonte.
Mesmo que de pé em toda aurora,
Não escutam o clamor.
E fogem.

Cantarolam horas,
Comem, bebem e jogam conversa fora!
Vão cedo ao mercado central.
Atravessam os dormentes da Galiana,
Sobem o Morro do Alecrim.
Avistam a cidade,
E ficam mudos, e descem.

Perneiam até o coração dela,
Mas não escutam a taquicardia.
Ela agoniza, faz uma apelogia:
Minha cultura é rica,
Minha gente é bonita,
Sejam meus balaios,
Leiam meu dicionário,
Traduzam minhas linguagens,
Aos gentios bem direitinho.
Eu me chamo Caxias!
Mantenha-me viva pelos séculos futuros!
Amém.

_____________________________

OBRIGADO CAXIAS (FELIZ ANIVERSÁRIO) 
(Ângela Maria)

A minha terra natal, 
a Caxias das palmeiras das palmeiras 
de Gonçalves Dias, não morreu, 
renasceu no último dia primeiro, 
primeiro dos seus cento e noventa e dois anos 
e dos últimos dias que por lá estive. 

Renasceu em mim, aquela terra que me pariu. 
Pudemos viver em poucos meses, 
os quarenta e tantos anos de distância, 
e uma conhecer (e reconhecer) a outra.
Não , não mudei Caxias, não, 
não me mudei para Caxias, 
Caxias nunca saiu de mim, 
eu nunca saí de Caxias. 
Eu sou aquela pessoa, que se melhorar, estraga, 
se piorar, estraga ainda mais, 
então deixa eu assim: do jeito que Caxias me fez. 

Caxias, se melhorar, estraga, 
porque Caxias não é uma praça, 
não é uma veneza, uma igreja, 
Caxias é o que sua gente é: uma gente humilde, 
que se aceita do jeito que é. 

Tem pobreza em Caxias? Tem coisa "errada"? 
IH! Tem sim, e muita!! 
Mas até isso faz de Caxias um lugar especial,
especial, porque é de dentro da gente, 
e o que tá dentro da gente ninguém tira, 
ninguém conhece, ninguém piora ou melhora, 
só a gente mesmo. 

Caxias fez aniversário, 
Aniversariou na fé de sua gente, 
se perpetuou na fé de seu Clero, 
um Clero que comungou comigo, 
minhas mazelas, e me absolveu assim mesmo, 
que ungiu meu pé, quando caí. 
Me levantou e me deu de beber. 
Caxias me acalmou, porque Caxias não tem pressa. 

__________________________________

CAXIAS
(Antonio Carvalho Guimarães)


Ah! Caxias gloriosa! Altar nobre e fecundo
de poetas e de heróis. Essa tua sombra egrégia
é a luz viva do sol com que, orgulhoso, inundo
minha vida de monge. E a tua vida, protege-a.

Pan, o deus forte e bom, o sábio mais profundo,
que te conduz, de braços, à luz da glória. E inveje-a
quem, sem prazer, assiste ao progresso do mundo,
que, para a vida, é sempre uma vitória régia!

Hóstia de minha crença, ó Deus do meu culto!
bendigo esse teu solo em que meu sonho encerra,
o meu triunfo vital, a seguir o teu vulto!

Como eu te quero, assim, altiva e senhoril,
Princesa do Sertão, reinando em minha terra,
pontificando sempre o Norte do Brasil!

__________________________________

OUTRAS PALAVRAS
Silvana Meneses

 ( para CAXIAS)

quando o vento
sussurra no meu ouvido
balança-me, tremula as palmeiras
não existe mais exílio
estou em casa
com o tempo aqui preservado
os becos exalam antigos segredos
as águas ainda murmuram suas canções
os paralelepípedos
sufocados pelo asfalto
outrora pisados por poesia
resistem tal qual
as palmeiras e a sensibilidade
os pássaros voam e pousam
nas vidas entrelaçadas
o canhão lá no morro
guardando o passado
- que de tão longe me dá uma saudade -
com as lembranças adormecidas
numa gaveta a sete chaves.