terça-feira, 30 de dezembro de 2014

AUTORRETRATO (Salgado Maranhão)


passei a infância
correndo atrás do sol,
pés descalços pelos matagais
por entre cascavéis e beija-flores.
logo cedo aprendi o milagre
das sementes:
minha mãe abria a terra
e eu semeava os milharais,
os campos de arroz e as colheitas.
acho que nessa época
já existiam salários, fomens,
crimes, injustiças e humilhações.
quanto à poesia, 
foi se alojando aos poucos
nos latifúndios do coração.
e hoje eu tenho as mãos
especializadas na confeitaria
do amor e das canções,
é que já vem da própria herança
natural do ofício
de criar e engravidar as plantas. 
                                                            
                                                                          
                                                                                 Fonte da  Imagem: Internet
Poesia encontrada no livro: "Punhos da Serpente", Achiamé, 1989, RJ

Desejo (Gonçalves Dias)


Ah! que eu não morra sem provar, ao menos 
Sequer por um instante, nesta vida 
Amor igual ao meu! 
Dá, Senhor Deus, que eu sobre a terra encontre 
Um anjo, uma mulher, uma obra tua, 
Que sinta o meu sentir; 
Uma alma que me entenda, irmã da minha, 
Que escute o meu silêncio, que me siga 
Dos ares na amplidão! 
Que em laço estreito unidas, juntas, presas, 
Deixando a terra e o lodo, aos céus remontem 
Num êxtase de amor! 


© GONÇALVES DIAS 
In Primeiros Cantos, 1846 
Poesias diversas

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

O Chão é Cama para o Amor Urgente - Carlos Drummond



O chão é cama para o amor urgente,
amor que não espera ir para a cama. 
Sobre tapete ou duro piso, a gente
compõe de corpo e corpo a úmida trama. 
E para repousar do amor, vamos à cama.

Amor Proibido - Francisca Girlene


O amor chegou
em meu coração,
de forma sutil 
preencheu 
todos os espaços.

Agora que partiu 
estou completamente
 perdida. 
Quero tê-lo, 
mas sei 
que não posso.

Ah! Esse amor proibido, 
que me consome dia e noite, 
tira meu sossego,
fazendo-me perder a razão.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Os 150 anos do nascimento de Coelho Netto




“Coelho Netto continua, no silêncio do seu túmulo, muito mais vivo do que os vivos que se comprazem em passar-lhe atestado de óbito literário”. (Josué Montello)


Manifestações literárias em todo o Brasil ainda relembram o aniversário de 150 anos de Coelho Netto. As homenagens registradas à memória cultural do importante escritor e político caxiense Henrique Coelho Netto - Príncipe dos Prosadores Brasileiros, jornalista, escritor, professor, romancista, orador, poeta, teatrólogo e lexicógrafo, contista, crítico, e memorialista. 

Foi lente de História das Artes na Escola Nacional de Belas-Artes, de História do Teatro e Literatura Dramática, (atual Escola Dramática “Coelho Neto”); de Literatura no Ginásio de Campinas e no Colégio Pedro II; Secretario do Governo do Estado do Rio; Deputado Federal do Maranhão em 03 legislaturas; Secretário da Liga de Defesa Nacional; Ministro Plenipotenciário e enviado especial do Brasil a Argentina, na posse do Presidente Irigoyen; Grande Oficial da Ordem da Coroa de Bélgica, e Comendador da Ordem Militar de São Tiago da Espada, de Portugal. 

O único redator brasileiro do “Dicionário Lello Universal” e em “A notícia”. Escreveu para todas as revistas literárias do Rio de Janeiro. Ocupou cadeira na Academia Brasileira de Letras, da qual foi Presidente e Academia Maranhense de Letras, fundada por Joaquim Dourado.

O escritor é filho Antônio da Fonseca Coelho, português, e Ana Silvestre Coelho, índia. Coelho Neto. Casou-se em 1890, com Maria Gabriela Brandão, filha do educador Alberto Brandão. Seu casamento foi realizado logo após a Proclamação da República, e o casal teve como padrinho, o Presidente Deodoro da Fonseca. Eles tiveram treze filhos, mas somente sete sobreviveram.

Coelho Netto desenvolveu todos os gêneros literários, e por anos foi o escritor mais lido no Brasil. Em 1928 foi eleito Príncipe dos Prosadores Brasileiros, num concurso realizado pelo "Malho". Ele era considerado por seu filho Paulo Coelho Neto, um escritor e político que possuía "o mais rico vocabulário da língua, calculado em 20 mil palavras".

"O eterno “Príncipe dos Prosadores Brasileiros” apresenta uma obra que passeia por diversificados gêneros literários. Não foi grande cultor da poesia, mas é sempre lembrado pela peça poética ‘Ser mãe’. Como se encontra registrado na obra ‘Canteiros de Saudades’, editada pela Café e Lápis (São Luís, 2011), Coelho Neto (grafado com a letra t dobrada - Coelho Netto) ofereceu inestimáveis contribuições à cultura brasileira (abolicionista, defensor da república, dos afrodescendentes, da ecologia, das mulheres, do civismo, do estado democrático de direito, dos esportes, da memória histórica do país, além de grande expositor dos regionalismos e das cidades brasileiras em suas obras, etc.)", frisa o escritor Carvalho Júnior.Carvalho destaca ainda que, Coelho Neto tem na figura do historiador/pesquisador Eulálio de Oliveira Leandro um grande defensor com vários trabalhos publicados em valorização do nome do autor de ‘Rei Negro’ e de uma imensa bibliografia que compreende 130 volumes, conforme declara o filho Paulo Coelho Netto no livro ‘Imagem de uma vida’: “Há muito para se falar sobre Coelho Neto. Ele merece a nossa pesquisa, os nossos debates, o nosso reconhecimento e as nossas melhores homenagens”.

Coelho Neto deixou o Maranhão com apenas seis anos de idade. Radicou-se no Rio de Janeiro, cidade que amou e definiu para a eternidade como “Cidade Maravilhosa”. Batizou, também, a cidade de Teresina, alcunhando-a de “Cidade Verde”. Foi para o Rio de Janeiro com dois anos de idade; estudou Medicina e Direito, mas não concluiu nenhum dos cursos.
Coelho Netto matriculou-se na Faculdade de Direito em 1883, em São Paulo. Depois se transferiu para Recife, por problemas políticos com alguns amigos da época. Fez o 1º ano de Direito onde teve como seu principal mestre, Tobias Barreto.

Regressou a São Paulo entregou-se às ideias abolicionistas e republicanas. Ele fez parte do grupo de Olavo Bilac, Luís Murat, Guimarães Passos e Paula Ney. A história dessa geração apareceria depois no seu romance A Conquista (1899). Tornou-se companheiro de José do Patrocínio, na campanha abolicionista. Ingressou na "Gazeta da Tarde", depois foi trabalhar na "Cidade do Rio", onde exerceu o cargo de secretário. A partir dessa época iniciou a publicação dos seus trabalhos literários.

Na Literatura de Coelho Netto encontramos: Rapsódias, contos (1891); A capital federal, romance (1893);Baladilhas, contos (1894); Praga (1894); Fruto proibido, contos (1895); Miragem, romance (1895); O rei fantasma, romance (1895); Sertão (1896); Inverno em flor, romance (1897), Álbum de Caliban, contos (1897); A descoberta da Índia (1898); O morto, romance (1898); Romanceiro (1898); Seara de Rute (1898);A descoberta da Índia, narrativa histórica (1898); O rajá do Pendjab, romance (1898); A conquista, romance (1899); Saldunis (1900); Tormenta, romance (1901); Apólogos(1904); O bico de pena (1904); Água juventa (1905); Treva (1906); Turbilhão, romance (1906); As sete dores de Nossa Senhora (1907); Fabulário (1907); Jardim das Oliveiras (1908); Esfinge (1908); Vida mundana, contos (1909); Cenas e perfis (1910); Mistério do Natal (1911); Banzo, contos (1913); Meluzina (1913);Contos escolhidos (1914); Rei negro, romance (1914); O mistério (1920); Conversas (1922); Vesperal (1922); Amos(1924); Mano, livro da saudade (1924); O povo, romance (1924): Imortalidade, romance (1926); O sapato de Natal(1927); Contos da vida e da morte, contos (1927); Velhos e novos (1928); A cidade maravilhosa, contos (1928); Vencidos(1928); A árvore da vida (1929); Fogo fátuo, romance (1929).

Teatro,vol. I: O relicário, Ao raio X, O diabo no corpo (1911); vol. II: As estações, Ao luar,Ironia, A mulher, Fim de raça (1907); 

Teatro, vol. III: Neve ao sol, A muralha (1907); vol.IV: Quebranto e Nuvem (1908); vol.V: O dinheiro, Bonança, O intruso (1918); vol.VI: O patinho torto, A cigarra e a formiga, O pedido, A guerra, O tango, Os sapatos do defunto (1924).

Crônicas: O meio (1899); Bilhetes postais (1894); Lanterna mágica; (1898); Por montes e vales(1899); Versa (1917); A política (1919); Atlética (1920); Frutos do tempo (1920); O meu dia (1922);Frechas (1923); As quintas (1924); Feira livre(1926); Bazar (1928).

Ele foi nomeado para o cargo de secretário do Governo do Estado do Rio de Janeiro e, no ano seguinte, Diretor de Negócios do Estado. Em 1892, foi nomeado professor de História da Arte na Escola Nacional de Belas Artes, depois foi professor de Literatura do Ginásio Pedro II. Em 1910 foi nomeado professor de História do Teatro e Literatura Dramática da Escola de Arte Dramática, sendo depois diretor dessa importante escola.

Exerceu diversos cargos para os quais era convidado, e entre diversas atividades ele se dedicava a escrever para revistas e jornais da época, no Rio como em outras cidades, além de assinar trabalhos com seu próprio nome, escrevia sob os pseudônimos: Anselmo Ribas, Caliban, Ariel, Amador Santelmo, Blanco Cabarro, Charles Rouget, Democ, N. Puck, Tattarin, Fur-Fur, Manés.

Em 1885 relacionou-se com José do Patrocínio, que o introduziu na relação da Gazeta da Tarde; nesse jornal deu início à sua Lista Abolicionista e Republicana. Em 1891, foi publicada sua primeira obra “Rapsódias”, um livro de contos. Dedicou-se a literatura com entusiasmo, publicando obras atrás de obras. Escreveu algumas peças teatrais, mais de cem livros e cerca de 650 contos. Foi também um orador de grandes recursos; em 1909 foi catedrático da mesma matéria. Foi deputado na Legislatura de 1909 a 1911; esteve em Buenos Aires como Ministro Plenipotenciário, em Missão Especial. Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. Em 1928, foi consagrado como “Príncipe dos Prosadores Brasileiros”. 

Foi dos primeiros autores a manifestar preocupações ecológicas; assim como Euclides da Cunha, escrevia contra o desmatamento e as queimadas na Amazônia, deixando manifestos tais como o que diz:

"Com a morte das árvores, desaparecem as fontes: rios que rolavam águas abundantes derivam agora de filetes rasos e tão escassos que uma quente semana de verão é bastante para secá-los; a caça rareia."
__________________________________
*Alberto Pessoa é escritor maranhense (Caxias), membro do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Brasília e Fenaj – Federação Nacional dos Jornalistas.

AUTOBIOGRAFIA DE CRIANÇA - Escritor caxiense EDMILSON SANCHES



Sou de Caxias. Caxias é a fundação, a base, o baldrame, enfim, tudo o que dá sustentação ao erguimento da edificação de mim.

Tenho orgulho e, mais que isso, tenho prazer da infância riquíssima que tive. Não me lembro bem das coisas que fiz este ano, o ano passado, há cinco, dez, vinte anos... mas como estão vivos e vívidos os ontens da minha meninice!

As ruas onde morei: rua da Palmeirinha, rua da Galiana, rua Bom Pastor, rua Antônio Pereira Neto (antiga Nova Rua), rua Benedito Leite (antiga rua do Cisco), rua Afonso Pena... As escolas onde estudei: o Coelho Neto (do médico, falecido, Marcello Thadeu de Assumpção -- essa mesma a grafia), o Gonçalves Dias, o Duque de Caxias (Bandeirantes), o São José (das irmãs missionárias capuchinhas)...

Menino pobre de infância rica: bom nadador, atravessava de um só fôlego o rio Itapecuru (que nem de longe se parece com os restos mortais líquidos e incertos de hoje). Décadas depois, em Fortaleza, estava fazendo mergulho no mar, em profundidade de 40 metros, como mergulhador submarino (mergulho autônomo).

Ainda em criança, costumava ser levado pelos parentes e amigos para pescar, pois era o único com coragem para, no meio ou nas margens do rio, descer da canoa, acompanhar a linha da vara de pescar e ir recuperar o anzol que corria o risco de se perder -- ou porque fisgara o muçum que teimava em não sair da loca, ou porque, teimando em não se render, o peixe enroscara a linha em vegetações, troncos e galhos no fundo do rio. Era uma festa cada anzol recuperado (devidamente acompanhado do habitante fluvial que o engolira).

Infância rica de menino pobre: nadar no Porto dos Homens; espiar, por entre o mato, as garotas no Porto das Mulheres. Pegar frutas na quinta do seu Antônio João. Acordar cedinho para catar no chão os caroços das sapucaias abertas na noite pelos morcegos.

Na quinta da Maria Poquinha e em outras quintas e cantos, muito antes de surgir os impedimentos legais (ainda bem que vieram!), caçar passarinhos, de baladeira (não se chamava estilingue), marcando no cabo a quantidade de bichinhos que se pegara. Preparar arapucas e outras armadilhas para bichos de pena e bichinhos do mato. Criar guriatã, canário, sabiá (inclusive sabiá-cagona), pipira, anum, vim-vim (não se chamava gaturamo). Ouvir o canto da rolinha fogo-apagou, do tiziu (passarinho que dava saltos mortais no ar e pousava seguro no galho).

Buscar pequi na chapada, onde também se colhiam frutinhas como coroa-de-frade, canapu, seriguela, cajá, umbu. Jogar futebol no Campinho, próximo à estação de ferro, e participar de briga, depois de jogar areia ou cuspir no rosto do garoto adversário ou desfazer com os pés uma risca no chão (“Aqui é a tua mãe e aqui é a mãe dele”).

Jogar pedras rente à água do rio para saber quantos filhos ia fazer. Banhar-se no rio até os olhos ficarem vermelhos e assoprá-los para voltarem a ficar “brancos”, senão a taca no lombo seria certa. Catar cobre, alumínio e outros metais para vender no quilo.

Nas quitandas do Nezinho, do seu Manoel e de outros Nezinhos e Manoeis, fazer compras de óleo em medida, querosene em litro para as lamparinas, quarta de arroz, meio litro de farinha... Bater em bico de lamparina para o murrão sair. Socar arroz no pilão e catar as escolhas no quibano.

Deitar na rede, enrolando-se todo de medo da “pesadeira” ou da grande porca que andava pelas ruas altas horas da noite. Ficar cheio de receios e temores ao ouvir a rasga-mortalha “grasnando” longe, pois, se cantasse sobre uma casa significaria que ali em breve morreria alguém.

Disputar campeonatos de futebol (sobretudo no clássico Galícia, da rua da Galiana, contra o Palmeiras, da rua da Palmeirinha). Fazer e vender gaiolas de buriti e papagaios de papel (sura era o papagaio sem “rabo” e a curica, com; não se chamavam de pipas). Quebrar lâmpadas e transformar o vidro em pó, para fazer cerol, e depois disputar nos céus quem cortava a linha de quem.

Jogar triângulo ou chucho, inclusive “de revestrés”. Jogar castanhas. Colecionar “dinheiro” que eram as embalagens de carteiras de cigarro -- Minister, Hollywood, Continental, Gaivota... No casa-ou-bila ou nos buracos, jogar peteca (não se chamava de bolinha de gude).

Subir nos arcos da ponte de cimento. Jogar a câmara de ar e depois jogar-se da ponte de ferro e ir boiando, rio Itapecuru abaixo, até o porto mais próximo de casa. Banhar-se no Ouro, no Ponte, na Maria do Rosário, no Iamun (Inhamum). Divertir-se na Veneza e suas piscinas e lagos de água mineral e trazer de lá latas de lama medicinal.

Brincar de pegador. Comer bolo na festa de Reis, ouvindo os tambores e a cantoria (“Ô meu Divino Espírito Santo!”). Criar carneirinhos que eram presentes de aniversário e ensiná-los a marrar, para desespero da mãe, que achava que o animalzinho poderia quebrar a cabeça do “treinador”.

Ver os potes “suando” na bilheira, sinal de água fria, bebida em copos de alumínio brilhando de ariado. Deliciar-se com os doces em vasilhames no petisqueiro, cristais na cristaleira. Sentar em peitoril e, à noite, levar para a calçada mochos, tamboretes e, o fino da bossa, cadeiras de macarrão, e ouvir estórias, “causos”; ouvir também a rádio Mearim de Caxias e o programa do Jairzinho na Rádio Sociedade da Bahia, onde também se ouvia a novela “Direito de Nascer”.

Ler “romances” (nome que se dava aos folhetos de literatura de cordel). Ceder ao vizinho, através da cerca feita de talos, xícaras de café em pó, açúcar, sal, arroz, óleo. Erguer canteiros e neles plantar coentro, alface e cebola em folha, para serem vendidos em molhos no Mercado Municipal (hoje a prefeitura).

Auxiliar na construção de casas de taipa e ajudar a cobri-las com folhas de palmeira (eram mesmo palmeiras?). Estudar na escolinha de dona Maria Luíza e ter que bater de palmatória nas mãos dos coleguinhas porque era o único a saber soletrar “helicóptero” e “exercício” (sabia até soletrar “Matias”: eme-a-má ti-gui-ti, corta o “t”, pinga o “i”, tira daqui, bota prali, esse-ás Matias...).

No São João, brincar brincadeiras de roda, espocar foguetes, jogar traques e bombinhas, dançar quadrilha, ter madrinha de fogueira e faca na bananeira...

Isso e muito mais, a riqueza que se deve acumular e que ninguém pode roubar. Mas ocorre o infanticídio, e daí surge o homem, lutando por poucas coisas e brigando por muitas causas.

Voltar a Caxias é voltar ao mais essencial de mim.
(2005)

EDMILSON SANCHES
edmilsonsanches@uol.com.br

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Marias... (Poeta caxiense Manoel Bezerra)



Marias...
Maria de Jesus,
Maria da Cruz,
Maria de Nazaré,
Maria José,
Maria das Dores, ...,
todas as Marias,
Marias dos Amores
do Mané!

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

O amor de Ana Amélia pelo poeta Gonçalves Dias

OCEANOS NÃO PACÍFICOS
                                         Por Wybson Carvalho


Inverno de 1870, na cidade de São Luis do Maranhão. Parecia ser interminável aquela chuva à beira-mar, nas proximidades da rampa Campos Melo: local de muita movimentação em atracação, embarque e desembarques das embarcações marítimas que, ali, chegavam e partiam trazendo e levando mercadorias e gente. Naquele local de chegada e partida havia muito trabalho de homens pescadores, estivadores, arrumadores e, ainda, de passageiros em viagens nas embarcações que faziam a travessia do Boqueirão Maranhense: pedaço do Mar que sempre estava submetido a Maremotos no período de inverno rigoroso. Enfim, um cenário de muitas histórias de naufrágios e desaparecimento de embarcações com tripulação e passageiros.

Porém, era mesmo um inverno rigoroso. A chuva nunca dava trégua e era quase impossível que alguém saísse de casa para realizar alguma atividade que não fosse relacionada diretamente à viagem, ali, na rampa Campos Melo. Mas, diariamente, por lá, uma pessoa era notada: tratava-se de uma senhora muitíssimo bem-vestida, com uma luz advinda de dois grandes e irrequietos olhos verdes e com ares esperançosos de quem sempre estivesse esperando por alguém que prestes a chegar. A presença daquela senhora, sempre no mesmo lugar olhando o Mar, como se de lá estivesse acenando para um outro alguém que só a sua própria imaginação criasse. Algumas pessoas mais acostumadas, diariamente, com aquela presença imponente de uma senhora que parecia ser da alta burguesia ludovicense, chegavam a comentar: - “Aquela senhora é a Ana Amélia; a musa do poeta Antônio Gonçalves Dias que, desde que se tornara viúva, passara a está sempre presente na rampa Campos Melo como se estivesse à espera da chegada do poeta náufrago, desde o ano de 1864, quando tentava regressar da Europa para sua terra, o Maranhão”.


                         Ana Amélia foi, na realidade, o eterno amor do poeta Gonçalves Dias, aquela pela qual ele, também, vivera um imenso amor. Porém, por motivos de discriminação familiar, em face ao racismo, e, à desigualdade de classe social, ambos não tiveram o prazer de vivenciar aquele amor fiel, verdadeiro e que nunca acaba, um amor impossível de ter sido vivido, mas que ficou na memória e no espírito de Ana Amélia mesmo após o desaparecimento de Gonçalves Dias. E sobre esse triste fato, ocorrido em 1864, num naufrágio, bastante noticiado pelos jornais da época, sempre nas matérias jornalísticas havia a notícia de que o corpo de Gonçalves Dias jamais fora encontrado. Então, Ana Amélia, que era casada no período, que aconteceu o naufrágio, no qual desapareceu o poeta Gonçalves Dias, após se tornar viúva em dois casamentos, ia todos os dias à rampa Campos Melo; como se, lá, um dia talvez, ela tivesse um grande encontro com o seu única amado, Gonçalves Dias; como se do fundo do Mar o poeta emergisse e chegasse aos seus braços. Pra Ana Amélia, já viúva por duas vezes, isso seria possível. 

Muitas vezes algumas pessoas a ouviam a falar sozinha: - “Um poeta nunca morre ele se encanta e o meu Antônio, meu único e verdadeiro amor está vivo no meu coração e eu tenho a certeza de que ele um dia virá numa dessas embarcações ao meu encontro e nós viveremos nosso amor para sempre, pois sou aquela que ele sempre criou em seu desejo, aquela que ele sempre idealizou em sua imaginação, enfim, aquela que ele amaria e viveria para sempre com esse amor” - “O meu amor, Antônio Gonçalves Dias, um dia virá... talvez quando esse inverno acabar e der luz aos céus para iluminar nosso encontro com raios de sol e nós, então, iremos sentar a um banco do Largo dos Amores e confessar, um ao outro, todo o quanto podemos amar dali por diante, sem que nada mais possa nos atrapalhar” - “Mas, se nunca vier ao meu encontro é porque ele estará me esperando lá nas profundezas desse mar que o esconde de mim. Ai, eu pedirei ao meu bom Deus que me torne, pelo menos, um pingo de sal envaido e mergulhado nesse Mar para que eu possa ir ao seu encontro”. - “Os amores verdadeiros nunca morrem e sim se transformam noutras naturezas para se tornarem lendas encantadas a fim de alimentar novas paixões aos que saberem sobre nós, os verdadeiros amantes”.

E, assim, há mais de século comenta-se que, ali, na beira-mar, em São Luis do Maranhão, nas proximidades da rampa Campos Melo, as ondas do mar sempre às 18h00, em cada dia de maré enchente, entoam uma canção de amor em louvor ao amor de Gonçalves Dias e Ana Amélia. Pois, há quem diga que seu desejo fora satisfeito pela Divindade: um dia daqueles tempos Ana Amélia se transformou em um punhado de sal que mergulhou esvaído ao mar e foi ao encontro do encantamento de seu amado.  Não se sabe bem a certeza desse encontro, mas, ainda, hoje, comentam que nas últimas vezes que Ana Amélia fora vista, ali, àquela espera, tinha sempre seus olhos verdes quase que transformados em dois “Oceanos Não Pacíficos”.       


* Conto do poeta Caxiense Wybson Carvalho

VENEZA - QUINCAS VILANETO


Mineralíssima água
que tudo encanta
enquanto
mansa
a exorcisar pústulas
promover curas
embebedar sedes.
Guardiã do ócio
e de sentenças
- quero exaurir-me
de tédio
e de bonança
no acaso da tarde
em tardança
quando
recolher-me
perseguindo luas
sobre o verão
de veredas
a soluçar estrelas
guias
a ensaiar rumores
vestidos de lama
da cor da solidão.


quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

VERO AMOR – Poeta caxiense Firmino Freitas




Que não seja exigido
O que não posso dar
Que não se exija 
O que posso dar
Que não se exija...

Amor não se exige
Por ser sentimento
Unilateral.

O amor a dois
São dois amores
São dois sentidos
São dois sentires
Vezes convexos
Sempre paralelos
Na unidade de ser.

Exigir amor
É não amar
Por possessivo
Amar é simples dar
Jamais receber.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Biblioteca Municipal - Poeta caxiense Fábio Kerouac


este é o lugar
de uma puta ou de uma madre superiora
ou ainda de um mendigo fugindo do frio

este é um lugar
onde um estudante foge do professor de história
e a jovem encontra o amor proibido

este é um lugar 
de sonhos e pesadelos escritos
eternizados ou não
pesquisados ou não
este ainda é o lugar de um poeta...


* Foto do aquivo pessoal do poeta  Fabio Keroac
que mora em Hamburgo (Alemanha)


Príncipe da Prosa - Poeta caxiense Carvalho Junior



de sangue luso-silvestre,
bem sabe a princesa Caxias
a felicidade em ser mãe
honrada do literato mestre!

verde-calorosamente, a bela
capital Teresina o ama; o Rio: cidade
maravilhosa (além dos janeiros)
põe o nome dele em fama!

príncipe da prosa,
pastor das palavras
na sábia palavra
de Guimarães Rosa!

pai de tantos filhos e livros,
quem não leu e não gostou
na pedra do preconceito
e da preguiça se precipitou!

valoroso Hércules da escrita,
imponente e anoso jequitibá...
da nossa memória literária,
o gigante nunca expirará!

mano da pátria, do homem,
dos esportes, da natureza...
da cultura da nação brasileira,
viveu pra fazer essa defesa!

novembros são cebolas nos olhos
em nosso canteiro de saudades:
um levou Gonçalves Dias, outro
ao amor de Gabi deu a eternidade!

com um ou dois “tês” (ao seu crittério)...
com estilo, ele assinava
o glorioso nome: Henrique
(o máximo) Maximiano Coelho Netto.”


* Homeagem do poeta caxiense Carvalho Junior
ao poeta caxiense COELHO NETTO


segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Rua Padre Gerosa - Mario Luna Filho



Sempre quis
Fazer um poema
Para a rua Padre Gerosa,
Não um poema épico
Ou onírico,
Nem uma elegia ou haikai.
Não.
Talvez um poema lirico
Ou nem tanto.
Um poema
Sem parábolas ou metáforas.
Que fosse um poema comum
Desses que se encontra
Em todo rodapé de jornal.
Que fosse ao menos
Um poema desses que se encontra
Na seção de achados e perdidos.
Sempre quis
Fazer um poema 
Para a rua Padre Gerosa
Um poema mínimo que fosse,
Quase não existindo,
Mas que existisse.
Que lembre ao menos
De tênue lembrança
Do seu espreguiçar toda manhã.
Para poder acordar,
Uma rua perdida,
No meio de tantas outras.
Poucos a conhecem
(..)
A rua Padre Gerosa 
No entanto
Traça paralelos a minha alma,
Desembocando em todos os meus caminhos.
É que,
Em algum lugar 
Da rua Padre Gerosa,
Deixei guardado
O tempo
De minha infância.

Hino aos 190 anos de Antonio Gonçalves Dias (Imperador do verso) - Poeta caxiense CARVALHO JUNIOR



Filho ilustre da princesa Caxias, 
Voz guerreira da tribo Tupi, 
Gonçalves Dias, homem das letras... 
Bravo bardo do Morro do Alecrim! 

Dramaturgo, mestre, linguista, 
Sabiá do canto plural... 
Tradutor da alma indígena, 
Poeta da raça, glória universal! 

Ó cavaleiro da Ordem da Rosa, 
Pincel do progresso em perfeita métrica, 
Antonio, expoente nome do Maranhão, 
Mais que valente vate das Américas! 

Nada há de mais belo em toda a Terra 
Do que teu romantismo ultrabrasileiro 
E tuas palmeiras pintadas em prosas poéticas! 

Filho ilustre da princesa Caxias, 
Menino, imperador do verso, eu vi! 
Gonçalves Dias, homem de brilhos... 
Coração no mar, tua alma aqui! 


terça-feira, 2 de dezembro de 2014

PESARES - Manoel Caetano Bandeira de Melo



Mulheres, quem sabe, pensem
como devem pesar falo testículos
Homens, quem sabe, pensem
como devem pesar
os seios nas mulheres.

Falo testículos a ressair do corpo
a no corpo pesar, quem sabe pensem
enquanto os deixe perplexos
como as mulheres carregam
os próprios seios

Falo testículos seio eretos
sangue a por dentro correr
da cova da natureza.



MANOEL CAETANO BANDEIRA DE MELLO
Poeta, ensaísta, advogado. Nasce em Caxias, Maranhão, no dia 30 de julho de 1918, filho de Raymundo Públio Bandeira de Mello e Maria de Lourdes Silva Bandeira de Mello. Faleceu no Rio em 2008. Foi membro da Academia de Letras do Maranhão.
Obra poética: 
A Viagem Humana (1960), 
O Mergulhador (1963),
Canções da Morte e do Amor (1968), 
Da Humana Promessa (1976), 
Uma canção à beira-mar (1977),
Durante o canto (1978), 
A estrada das estrelas (1981), 
Da constante canção (1983).