quarta-feira, 27 de setembro de 2017

10 poemas de Déo Silva*







"A palavra, 
em verdade,
é funda em si mesma.
Raso, contudo,
é o nosso poder
de entendê-la."
(Déo Silva)


Revelação

Dentro do poema estou.
Não sob formas tênues e 
claras. Não como uma frustração impronunciável
que o tempo dissolve no ar, ou como
uma paisagem fácil, que degrada os espelhos.
Não apenas cheio de vivências íntegras
e com a palavra inútil em sua lógica.
Mas, oculto e denso, 
na mutação que sou de mim mesmo. 


O muro

O naufrágio do muro é o vermos como tal. O muro, antes que se o edifique (e o muro há de ficar sem muro) já o é. O relevo do muro é ignorar-se, e seu desastre é estar com o ar que lhe degrada o puro. O puro puro. O vocábulo corrompe o muro. O muro que ficou no mundo exigindo uma flauta. 


Árvore

A árvore paradoxal
na sala
chora fogo e neve

Ventos de terras esquecidas
não a sopram 
porque
em dezembro
as janelas não se abrem para
o abismo

A árvore paradoxal
só constringe
o menino sem estátua
sem rio
sem fruto

Mas extasia o mundo.


Sábado de cinzas

Estas paredes,
amadurecidas em sua dura inércia,
assistem ao escurecer do século
e o seu desespero cresce
no prenúncio amargo dos relógios.
Sábado de cinzas:
os homens querendo pisar em Deus. 


Perspectiva de um exercício

Eis o de quanto, agora, preciso,
para meu encanto:
abrir a palavra
até descobrir-lhe
o núcleo fundamental
e, depois,
semeá-la numa terra sem memória
de que flores verbais
se abrirão, um dia,
a desprender
o olor
de uma estranha primavera.

Abrir a palavra
que ficou longe,
em seu misterioso concreto
e desvendar,
no imo tônico do verbo,
a verdade agônica
de um desejo
que seja, sobretudo, eterno.

Abrir a palavra
que eu não tenho agora
e de que a alma se nutre
para o ânimo da fantasia.

Abrir, enfim, a palavra
de que nasce
o fruto humano de cada dia,
para o fenômeno

da poesia.


Do pássaro em que voo

O meu pássaro de prata
se deslumbra, com a intacta
existência do seu fim.

Não finge o voo. Só o intenta,
quando a esfinge, que o sustenta,
se abre em volta de mim.

O meu pássaro de prata
da essência não se aparta
que o move em minha mão.

No entanto, fosse possível,
para torná-lo sensível,
dar-lhe o canto. O voo, não.


Lado inútil 

Tua infância é muita,
para o que envelhece,
dentro do absurdo
que me torce e tece.

Tua infância é pouca,
para o que me cabe.
(E que a vida seja
o que, em mim, não sabe).


Ensaio sobre a porta


Perto da porta está o abismo.
A porta – exausta do caos que a fecha – dá-se em desespero
e seu imaturo silêncio cresce nas muralhas. 
A porta, sem a ruína que a espera e a espreita, é o flagelo de 
quem a abre.
A porta é o começo real de tudo quanto fica, pois sua viagem 
válida é inventar caminhos para o Homem.
Se amadureço no verbo, (onde aporto) descubro, na porta, mais
do que uma porta: um porto. Porto donde parto para o acontecimento, 
aquele em que sou a volta de um longo desperdício.
A porta, fora da lógica e do que a torna plena e plana, é a origem 
da solidão que a move, fechando-a.
A porta existindo indefinidamente está e razão é que a observemos. 


A bailarina

Enquanto ela dança, (e a ideia do sexo lhe baila na mente) sua
imaginação a coloca num plano respeitavelmente indecifrável.
Não há, em si, o caminho, senão a volta, e seus vestígios são a 
continuação de uma fuga.
A bailarina se alça fora do equívoco e encanta-nos, perdendo-se
na circunferência que a prende.

Banquete

Eis o pão
de que necessitas,
para o alimento
do dia eterno:

a fome de invadir
o mistério global.




Raymundo Nonato da Silva (DÉO SILVA), poeta e jornalista brasileiro, nascido em Caxias-MA, em 15 de agosto de 1937. Descendente de tradicional família maranhense, é filho de Jefferson Antonio da Silva e Aracy Carneiro da Silva. Sobrinho do casal Alderico e Dinir Silva. Entre títulos inéditos, publicações em vários suportes literários, é o autor dos livros de poemas “Ângulo noturno” (1959) e “Equação do verbo” (1980). Este 27 de setembro de 2017 marca 34 anos de seu falecimento físico. 


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Fonte: 
Seleção/organização dos textos realizada pelo professor, pesquisador da obra de Déo, Carvalho Junior

Imagens: 
Foto cedida ao professor Carvalho Junior pelo filho mais novo de Déo Silva, Welter Cantanhêde, modificada com recursos de computador. 


sábado, 23 de setembro de 2017

Tabocas & versos: novas reações/resistências à ameaça de descaracterização do Morro do Alecrim

 


ALECRIM DESFIGURADO
/// Íris Mendes///


A Balaiada feriu o povo
e tombou a liberdade.
O morro foi tombado!
Ao silêncio dos canhões, sobre o sangue derramado, 
cresceram flores.
Aí erigi canções.
Mas eis que rugem os tratores.
Morro desmatado, morro matado.
Protestam agora os violões 
porque nos violam os vilões.
O morro é tombado!
Projetas sua queda
e tombam os corações dos poetas
a esse tiro de um tirano canhão acordado.
Acordam os poetas!
Suas vozes erguem-se em guerra:
"O morro é tombado!"
As violas cantam essa canção.


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OS POETAS E SEUS CANHÕES 
/// Mohammed Branca Viana Hassam///



Do canhão 
Clarão 
Corpos nus
No chão 
Luta diária 
Sem chão 
O protesto 
É minha voz 
Os poetas e seus canhões 
Soltando verbetes, fazendo clarões
A guerra só começou!


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Fonte:
Seleção e organização dos poemas: Carvalho Junior
Fotos retiradas do Facebook de cada escritor

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Tabocas & Versos: 5 poemas em resistência à ameaça de descaracterização do Morro do Alecrim


                                    

BALAIOS DE SOLUÇOS
///Carvalho Junior///


flecha de mágoas-vivas, corpo de tabocas órfãs,
sou carvão desprezado no alto da ladeira
(o)fendida pela lâmina de silêncios suicidas.

o sonho resiste ao fogo, ao cuspe tóxico dos
homens-cinza e à pedra não lapidada dos
autodidatas da futilidade.

tudo morre diante dos nossos olhos:
o morro, a história, a lucidez...
as borboletas sobreviventes marcham sobre os
balaios de soluços que explodem no jardim. 


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A TERCEIRA “GUERRA” DO ALECRIM
///Edmilson Sanches///


“Ímpios sem crença, e precisando tê-la,
Assentastes um ídolo doirado
Em pedestal de movediça areia;
Uma estátua incensastes [...]
Da política, sórdida manceba “

(Gonçalves Dias, “À Desordem de Caxias”, IV, 
in Poesia Completa e Prosa Escolhida, p. 551,
Rio de Janeiro: Editora José Aguilar, 1959) 


E eis que lá no alto do Morro trava-se nova batalha
-- não é mais Alecrim, Duque, nem é contra Fidié: 
é luta por causa histórica, onde a verdade assoalha
para o Morro não deixar de ser a Memória que é.

Esse Morro onde habita a História sem fim
e também onde o poeta sua musa canta
pode não mais ser nosso Morro do Alecrim
para ser -- e muito mais -- “o morro da santa”.

Querem (im)por uma estátua no alto do Morro do Alecrim,
onde a escultura é desnecessária, quiçá conflituosa.
Há opções de valia -- entre elas o Morro do Barata, sim,
onde, com Fé, renderemos graças à Maria Virtuosa.

Filhos da terra que dizem respeitar a História,
detentores transitivos do volátil Poder,
abusam da condição, desrespeitam a Memória,
louvam a si mesmos por trás da Santa enaltecer.

Estátua, substantivo sem vida nem rima.
Colocá-la bem no Alecrim é turbação.
À essa obra no alto do Morro, lá em cima,
a Santa pede e quer contrição, oração.

Pois é no interior de cada um que se constrói a devoção
e se a confirma na Fé, no Trabalho, no Amor, na luta contra o Mal,
com decência suprindo o povo carente não só de fé, mas de pão
acompanhado de boas doses de ética, fraternidade, moral.

O próprio Deus escolheu o íntimo do ser humano como templo
quando poderia, fácil, por outros meios fazer-se representar.
E certos humanos, incrédulos, desapegados desse exemplo,
o que fazem para a Deus -- na verdade, a si mesmos, ímpios -- louvar?

Em sítio histórico de Caxias quer-se erguer estátua religiosa;
fazer estátua não só porque os feitores tenham fé, convicção ou crença:
quer-se fazer estátua porque estão, breves, no Poder – coisa perigosa –,
senão teriam construído com humildade, sem alarde ou desavença.

Se têm contas a prestar com a Santa,
se co’ ela têm promessas a pagar,
por que, humildes, como quem ora e canta,
não fazem a estátua em outro lugar?

Digam: Por que foram mexer logo com a Virgem Santa?
Por que assumiu a obra e depois sumiu o Público Poder? 
Porque quem tem fé sabe que à Fé incomoda e espanta
o fazer questão de anunciar ao mundo o seu fazer.

Receberam uma dádiva -- dinheiro, poder, vitória, eleição --
e, cumpridores, querem agradecer com uma o que a outra mão pediu?
Então, munam-se, assim, de reserva, recato, humildade, contrição,
e não se preocupem se todo mundo no mundo todo vê, ou viu.

Pague-se sua promessa sem excessos, ou soberbia, com discrição,
--- pois santo que é santo não precisa de alto-falante para sê-lo.
A Santa, sobretudo porque virginal, materna, estenderá a mão
e grata ficará pela prudência, contenção, amor, fé e zelo.

Basta de revolverem-se as pedras do Morro e sua memória;
cada uma delas é um patrimônio que é nosso, que é seu.
Diz o Poeta: “Cada pedra que i* jaz encerra a história”,
história valente, corajosa, “dum bravo que morreu”.**

Nessas pedras há sangue, há dor, há ideal e há liberdade,
e essa luta, só o Morro do Alecrim deve ser o lugar dela.
Assim, porque soterrar mais ainda a História, quando, de verdade,
há outros lugares para a santa escultura e o que vier com ela?

O caxiense Teixeira Mendes, a partir do Rio de Janeiro,
iniciou uma luta, fez a lei e finalmente conseguiu
separar Igreja de estado -- pois a Fé, valor verdadeiro,
não deve ser obrigação constitucional no Brasil.

Mas o que um caxiense faz para todo o País outros desfazem em casa.
De modo exposto ou escondido, verbo e verba em variados expedientes,
interesses pessoais são mantidos, decisões e descaso ganham asa
...e História e Patrimônio caxienses -- sim, ruindo -- cada vez mais doentes.

Depois de portugueses e balaios,
que “mato” e “morro” não tornem a verbos
nesta terceira “guerra” do Alecrim;
que sejam o que são: só Natureza
e História, ambas com seu espaço e beleza,
cumprindo em Caxias seu elevado fim.


Sine ira et studio.


(*) O mesmo que aí.
(**) “Cada pedra que i jaz encerra a história” e “dum bravo que morreu” são respectivamente o terceiro e o quarto versos da segunda estrofe da primeira parte do poema “Morro do Alecrim”, de Gonçalves Dias (in Poesia Completa e Prosa Escolhida, p. 527, Rio de Janeiro: Editora José Aguilar, 1959).


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MORRO DE SAUDADES DO ALECRIM
///Isaac Sousa///


Morro de saudades do alecrim.
Morro e teu perfume jaz em mim.
Como um velho feiticeiro
Que invoca pássaros de fumaça.

Morro sete vezes sem perdão
Nas encruzilhadas da canção,
Onde o velho feiticeiro vem
modelar morcegos enevoados.

Nas ruínas gemem ossos litium
Dos tabocais plantados no infinito.
E o poeta em seu cigarro escreve
Suítes de metal e de fantasmas.

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EM GUARDA 
///Jorge Bastiani/// 



Sei que nunca é chegada a hora de dizer 
adeus.
Também não há hora para se despedir.
Nasci ouvindo histórias,
Até mesmo de assombros 
Sobre sombras que
Pernoitamos essas paragens do Morro. 
Agora ouço passos, de novo, 
Acordando tudo – de novo! –
Para mais uma
Nova batalha. 

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SÃO RUÍNAS NOSSAS
///Quincas Vilaneto///




Não preciso consultar a bússola
nem tampouco o gandula da fé,
todo o meu chão pode ser visto 
à medida que se rabisca nele 
e a memória permanece de pé. 

Não preciso de uma outra história 
criando uma estética às avessas, 
as coisas que realmente nos interessam, 
devem ser mais do que borras de hóstias. 

Não tenho nada contra a religiosidade 
nem me interessa o conteúdo da promessa, 
só não creio que seja moderno 
juntarem-se pios com os céticos 
e destruir todo um passado impresso.



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Fonte:
- Seleção e organização dos poemas: Carvalho Junior 
- Fotos retiradas do Facebook de cada escritor




"Ímpios sem crença, e precisando tê-la,
Assentastes um ídolo doirado
Em pedestal de movediça areia;
Uma estátua incensastes […]
Da política, sórdida manceba “



(Gonçalves Dias, “À Desordem de Caxias”, IV, 
in Poesia Completa e Prosa Escolhida, p. 551,
Rio de Janeiro: Editora José Aguilar, 1959)

terça-feira, 5 de setembro de 2017

100 Poemas para Caxias - Parte 3


Fonte: Google Imagens



CAXIAS
(João Fonseca Maranhão)

Caxias, minha eterna namorada.
Jamais te esquecerei, terra querida!
Vejo-te nos meus sonhos retratada,
nos momentos de dor de minha vida.

Não és, por certo, uma ilusão perdida:
És saudade em minh'alma encastelada,
Flor dileta de mim nunca esquecida,
Poema de luz em noite enluarada.

O teu céu, luminoso, cintilante,
Sereno, dum azul resplandecente
É, que sempre me acena para adiante.

Mesmo de longe, tenho-te bem perto;
Terra querida, sabiá dolente,
Juntos sonhamos um porvir incerto.

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CAXIAS
(Bráulio Mangabeira)

Terra sagrada de Gonçalves Dias,
sagrado berço de Coelho Neto,
tu me fazes sentir as harmonias
que na minh'alma não encontram veto.

Hás de ser sempre a vívida Caxias,
virtuosa, suprema, de ar correto.
És a mais bela das topografias
feitas por Deus, em lúcido projeto.

Tu me fazes viver de alta ventura...
me fazes esquecer ágra tortura
que d'outas terras na minh'alma tranco.

És um conjunto de elevadas artes!
meu coração fechado n'outras partes,
só teu seio rútilo destranco.

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ALDEIA
(Cid Teixeira Abreu)

Trezidela
Tresidela

Três Aldeias
ou
trás d'ela.

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EXALTAÇÃO A CAXIAS
(José do Espírito Santos Nascimento)

Tu és linda ó Caxias - formosa realeza!
és altiva, gloriosa e inspiradora, ardente,
tu és repositório excelso da natureza - 
berço de quem tem vida e canta o que a alma sente.

Tuas águas cristalinas, límpidas, refletem
os teus céus que se ornam de belos coloridos
e os cenários de glórias que se não repetem,
guardam tuas tradições nos campos bem floridos.

Tu és o sol bendito que aquece e ilumina,
a lua que embeleza as noites varonis,
a fonte aureolada, pura e tão divina,
que orienta o taciturno e guia o infeliz.

Tu és do sertão a Princesa consagrada,
da Atenas maranhense, orgulho e tradição,
do Brasil grande e forte, és terra sublimada
e do humilde Nascimento, és natal torrão!

Teus filhos te adoram com devoção e amor,
por seres da mãe de Deus a terra abençoada
as visitas te amam, ó fonte de esplendor!
pois és por Jesus Cristo assim purificada.

És repositório de alegrias e ternuras,
berço instimável de fé e de virtude,
onde tuas filhas nobres, santas e tão puras,
deleitam-se a comtemplar da paz e quietude.

És estrela que fulge, ó invicta Caxias!
bela, esplendorosa, nos céus da cor de anil,
és fonte inesgotável de amor e poesia,
que eleva, incentiva e ilumina o meu Brasil!

És de todo maranhense a gleba dileta,
que guarda as tradições de um passado glorioso,
és fonte de esperança, onde a alma do poeta
recebe a inspiração em tom harmonioso!

Tuas palmeiras se elevam lindas e garbosas,
altivas e altaneiras, além na amplidão,
e são marcos das tradições belas, gloriosas,
que te consagram - " Princesa do Sertão".

És, enfim, Caxias querida, a terra santa,
que se reveste de amor, de sonho e esperanças,
como um astro puro que rebrilha e que encanta,
no infinito sereno e azul de nuvens mansas.

E eu contemplo extasiado, a bela formosura
que orna todo o esplendor de tua grande riqueza,
qual brilhante no colo de uma noite escura,
iluminando com sua luz a natureza.

Serei teu servo humilde e filho generoso,
co'afeto e grande amor por tua propriedade,
lutando co'ardor pelo nome valoroso
com que foste premiada por tua dignidade.

Se algumdia tu fores pela guerra ameaçada,
e se estiveres mergulhada em solidão,
terás firme e coeso, ao teu lado, ó terra amada
o filho que te ama de todo coração.

Hei de te ver sempre formosa e encantadora,
cantando as epopéias de tua tradição - 
e beijando a tua fronte pura sedutora - 
ó rainha da esperança - estrela da nação!

Junto ao teu bom povo eu serei sempre feliz,
porque ele possui da bondade o amor e a luz,
que ilumina e reanima as almas varonis,
conduzindo-as, firmes, aos páramos azuis.

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APELOGIA 
(Walter Berg)

A noite chega, o dia foge.
A Cidade dorme e acorda,
Reclama, sem consolo.
Os gentios fogem,
Do dever de cuidar,
Manter viva na memória,
Cuidar da fonte.
Mesmo que de pé em toda aurora,
Não escutam o clamor.
E fogem.

Cantarolam horas,
Comem, bebem e jogam conversa fora!
Vão cedo ao mercado central.
Atravessam os dormentes da Galiana,
Sobem o Morro do Alecrim.
Avistam a cidade,
E ficam mudos, e descem.

Perneiam até o coração dela,
Mas não escutam a taquicardia.
Ela agoniza, faz uma apelogia:
Minha cultura é rica,
Minha gente é bonita,
Sejam meus balaios,
Leiam meu dicionário,
Traduzam minhas linguagens,
Aos gentios bem direitinho.
Eu me chamo Caxias!
Mantenha-me viva pelos séculos futuros!
Amém.

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OBRIGADO CAXIAS (FELIZ ANIVERSÁRIO) 
(Ângela Maria)

A minha terra natal, 
a Caxias das palmeiras das palmeiras 
de Gonçalves Dias, não morreu, 
renasceu no último dia primeiro, 
primeiro dos seus cento e noventa e dois anos 
e dos últimos dias que por lá estive. 

Renasceu em mim, aquela terra que me pariu. 
Pudemos viver em poucos meses, 
os quarenta e tantos anos de distância, 
e uma conhecer (e reconhecer) a outra.
Não , não mudei Caxias, não, 
não me mudei para Caxias, 
Caxias nunca saiu de mim, 
eu nunca saí de Caxias. 
Eu sou aquela pessoa, que se melhorar, estraga, 
se piorar, estraga ainda mais, 
então deixa eu assim: do jeito que Caxias me fez. 

Caxias, se melhorar, estraga, 
porque Caxias não é uma praça, 
não é uma veneza, uma igreja, 
Caxias é o que sua gente é: uma gente humilde, 
que se aceita do jeito que é. 

Tem pobreza em Caxias? Tem coisa "errada"? 
IH! Tem sim, e muita!! 
Mas até isso faz de Caxias um lugar especial,
especial, porque é de dentro da gente, 
e o que tá dentro da gente ninguém tira, 
ninguém conhece, ninguém piora ou melhora, 
só a gente mesmo. 

Caxias fez aniversário, 
Aniversariou na fé de sua gente, 
se perpetuou na fé de seu Clero, 
um Clero que comungou comigo, 
minhas mazelas, e me absolveu assim mesmo, 
que ungiu meu pé, quando caí. 
Me levantou e me deu de beber. 
Caxias me acalmou, porque Caxias não tem pressa. 

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CAXIAS
(Antonio Carvalho Guimarães)


Ah! Caxias gloriosa! Altar nobre e fecundo
de poetas e de heróis. Essa tua sombra egrégia
é a luz viva do sol com que, orgulhoso, inundo
minha vida de monge. E a tua vida, protege-a.

Pan, o deus forte e bom, o sábio mais profundo,
que te conduz, de braços, à luz da glória. E inveje-a
quem, sem prazer, assiste ao progresso do mundo,
que, para a vida, é sempre uma vitória régia!

Hóstia de minha crença, ó Deus do meu culto!
bendigo esse teu solo em que meu sonho encerra,
o meu triunfo vital, a seguir o teu vulto!

Como eu te quero, assim, altiva e senhoril,
Princesa do Sertão, reinando em minha terra,
pontificando sempre o Norte do Brasil!

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OUTRAS PALAVRAS
Silvana Meneses

 ( para CAXIAS)

quando o vento
sussurra no meu ouvido
balança-me, tremula as palmeiras
não existe mais exílio
estou em casa
com o tempo aqui preservado
os becos exalam antigos segredos
as águas ainda murmuram suas canções
os paralelepípedos
sufocados pelo asfalto
outrora pisados por poesia
resistem tal qual
as palmeiras e a sensibilidade
os pássaros voam e pousam
nas vidas entrelaçadas
o canhão lá no morro
guardando o passado
- que de tão longe me dá uma saudade -
com as lembranças adormecidas
numa gaveta a sete chaves.




segunda-feira, 4 de setembro de 2017

100 Poemas para Caxias - Parte 2




DESPERTA CAXIAS 
(João Vicente Leitão - 1970)

Desperta, Caxias! Alerta, Princesa!
E lança um olhar a teu belo passado.
Compara ao presente e verás, com tristeza.
Que estás nos divãs de teu nome sagrado.

Ó terra querida do Dias Carneiro!
O grande da indústria que soube elevar
O teu patrimônio moral, financeiro.
E soube o teu nome formoso, exaltar.

Nos longos recantos de todo o Brasil,
Assim como fez o Teófilo Dias,
Que muito distante do céu cor de anil,
Cantou tua glória, formosa Caxias.

E mais como fez o cantor dos TIMBIRAS
Que lá do estrangeiro, o teu nome elevou.
Desperta, Princesa, por ver maravilhas.
Que novo horizonte por Ti, despertou.

Querida Caxias, de nome sagrado,
Há muito dormias, em sono profundo,
Estavas vivendo do belo passado,
Do nome que tens, nos recantos do mundo.

O nome legado por Costa Alecrim.
O bravo guerreiro da luta do morro;
A luta de sangue, de mortes, enfim,
Que fez o inimigo pedir-lhe socorro.

Desperta e sorrir, pois agora o destino
Jogou, em teu seio, só homens de bem,
Que sabem fitar para o belo e divino,
Despidos da capa do brusco desdém.

Desperta, Princesa, de fé revestida.
Da grande vontade dos homens d’agora.
E em breve serás, ó Princesa querida.
A dona do nome que tinhas outrora.

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CAXIAS
(Afonso Cunha)

Muitas vezes pensando nos remotos 
dias ilustres desta grande terra, 
vejo passarem diante dos meus olhos, 
soberbos e mais belos do que nunca 
os heróis das batalhas mais famosas 
e os peregrinos poetas que os cantam.

Vejo no altivo Morro das Tabocas,
batidos pelo sol quente de agosto
aqueles que, no entrechocar da luta,
ergueram tanto o nome de Caxias,
que, embora decorridos tantos anos,
Caxias sente que combatem ainda!

E é por isso, talvez, que este meu povo,
quando se lhe antepõe a tirania,
tem atitudes de guerreiro antigo:
e então se escuta, pelo espaço afora,
um clamor de clarins, e de tambores,
e de cavalos ardegos de guerra... 

Nuvens de pó, que se erguem no horizonte, 
como criações de minha fantasia. 
Fazem-me um campo de batalha, 
Em que Alecrim de novo me aparece, 
revidando as injúrias do presente, 
com as mesmas armas que empunhava, outrora. 

Cada soldado que lhe segue os passos, 
tem para a morte um riso de ironia. 
Porque bem sabe que não vale a pena 
viver um povo que não tem coragem 
de arrebentar os seus grilhões de escravos 
numa explosão de cólera bendita. 

E à proporção que assisto a esse combate 
em que se apraz meu louco devaneio, 
fico a pensar de que serviria a vida, 
sem esses lances trágicos e belos 
dos que morreram pela liberdade 
e vivem agora para o nosso culto

_______________________ 

PEDESTRE
(Isaac Souza)

E se morre de amor? 
Amor de Ana, amor de Amélia, 
de uma Dama das Camélias? 
Às vezes, pulo da Ponte, 
às vezes, Morro Alecrim, 
por arlequina mascarada 
num carnaval de Veneza.

Se eu fizesse três amores, 
tivesse Três Corações, 
poção de amor em Caldeirões, 
faria meu Castelo Branco 
na sombra do Tamarineiro,
e na Volta Redonda dos teus seios 
Refinaria meu desejo.

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SER CAXIENSE
(Raimundo Nonato Cardoso)

Ser Caxiense é ter de sonhos uma
Grinalda enorme que lhe cinja o peito
É ter no peito, nessa Glória Suma,
À poesia o coração eleito...

Ser Caxiense é ter dos céus alguma
Missão divina neste mundo aceito;
É ter lá dentro o coração na pluma 
Morna e cheirosa dum macio leito...

É ter no peito um sabiá cantando 
Triste, canoro, com primor, e amenos
Voôs de Glória pelo peito alçado...

Se de Caxias, eu não sou, quisera
Que nas entranhas dessa terra, ao menos
Eu fosse um dia descansar - quem dera!...

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MINHA PRINCESA 
(Inês Pereira Marciel) 

Terra mãe, por Deus abençoada,
É tão rica de encantos mil...
Ante a realeza que tu és dotada,
Súdita curvo-me, fiel, servil.

Retorno a ti, oh, doce Princesa!
Após, debalde, alhures procurar
Esta tua beleza, soberana e sertaneja,
Que só tu possuis e vives a ostentar.

E que encontro nestas ruas palmilhadas,
E nas tuas praças, onde eternas juras de amor,
São levadas pela brisa morna e acanhada,
Aos ouvidos sequiosos do culpido sonhador.

E no luar que prateia os teus morros guardiões,
Como se fossem espadas reluzentes, em protidão,
Na defesa de teus filhos, teu trono, tradições,
Nas tuas cálidas noites enluaradas de verão.

Naquela lagoa encantada ou em teus riachos infantes,
Que generosamente deixas de tuas entranhas nascer
E que alimentam o plácito rio que te adentra, confiante,
Como  um amante desejoso de cuidados e prazer.

Na exuberância  de tuas matas verdejantes,
Onde cantam os bem-ti-vis, xexéus e juritis,
Ou nas palhas das palmeiras tremulantes,
Dos nativos babaçus, macaúbas e buritis.

Na simplicidade de vida de teu povo, tua gente,
Nos teus poetas, trovadores, todos teus talentos,
Na glória do teu passado, na riqueza do teu presente,
Que norteiam teu futuro, esperançoso acalento!

És minha Caxias, és Siriema, Trezidela, Cangalheiro e Ponte,
És Fumo Verde, Volta Redonda, Veneza, Pirajá, tantos e tantos!...
Um cântico sem final, que por mais que eu o cante,
Jamais poderei neste canto louvar todos os teus encantos!

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TESE
(Renato Meneses)

Destarte cidade luso-conservadora
de gáudios monarquistas, veacos ilustres
e heróis caguetes
puças de generosidade da boria do algodão
que à sorrelfa fugiam de penas pecuniárias
falando o mais fino francês.

Antítese

Entanto, braços bons de trabalhar
mulheres boas de fornicar
esculpiam ninguendades de anjos,
cosmes e gomes
em balaios de guerrilha.

Síntese

Eis a arquelogia nossa:
fósseis de puças e balaios
ancestral contradição infletida em nós.

Desteoria

Eu por mim, advento desse fóssil
Mas há quem desteoria.
Um agroval deles incompagina-se 
com essa metáfora de existidura forjada na ancestralidade
São feitos de amanhecimento sem memórias.
Quando muito vesperais do efêmo presente. 

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CAXIAS
(João Fonseca Maranhão)

Caxias, minha eterna namorada,
Jamais te esquecerei, terra querida!
Vejo-te nos meus sonhos retratada,
Nos momentos de dor de minha vida.

Não és, por certo, uma ilusão perdida:
És saudade em minh´alma encastelada,
Flor dileta de mim nunca esquecida,
Poema de luz em noite enluarada.

O teu céu, luminoso, cintilante
Sereno, dum azul resplandescente
É que sempre me acena para adiante.

Mesmo de longe, tenho-te bem perto;
Terra querida, sabiá dolente,
Juntos sonhamos um porvir incerto.

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CAXIAS RECORDADA
(Adailton Medeiros)


-- Caxias! 
-- Caxias! 
-- Caxias! 
-- ó Pátria

 guardai no vosso peito 
o nosso grito nunca proferido 
-- Sim - Exatamente isto: o nosso grito 

No entanto sabemos (com alegria) que
A morte é a vassoura do tempo: 
Tudo limpa 
Tudo faz desaparecer 
Tudo da carne: a beleza e o tormento 
Depois (tudo varrido: - limpo e reconciliado) 
resta-nos ancorar no esquecimento 

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PENSAMENTOS E VIVÊNCIAS 
(José Armando Rodrigues de Sousa) 

Nasci numa terra que as culturas são nativas.
Tem muita gente escrevendo poemas e poesias
Tem belezas que muitos ficam sem explicativas
Os encantos são tão belos e não são fantasias. 

Nós temos Gonçalves Dias, o glorioso
Nós temos Coelho Neto, o redentor
Nós temos Manoel De Pascoa, o valoroso
Nós temos Carvalho Junior, o inspirador. 

Nós temos Vespasiano Ramos, o estilista
Nós temos Teixeira Mendes, o embaixador
Nós temos o José Armando, o malabarista
Nós temos o Jotônio Viana, o navegador. 

Temos muitos nomes a documentar
Temos muitos nomes a esclarecer vamos estes nomes exaltar
Tara que todos possam conhecer. 

Temos o Morro do Alecrim
Temos o encanto da Veneza
Temos a beleza do Itapecuru
Temos o semblante das belas igrejas. 

Temos praças tão lindas
Temos ruas bem longas
Temos bairros divertidos
Temos pessoas valorosas. 

O seu nome é Caxias
A Atenas Brasileira
Princesa do Sertão Maranhense
O símbolo da verdadeira poética. 

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CAXIAS DOS AMORES 
(Alberto Pessoa) 

Caxias única, singular 
A tua história triste 
É bela para se contar 
Mas tua sina resiste. 

Teus dias estão escritos 
Nas peripécias da poesia 
Nas ruas aventuras, magia 
Na paixão de mil amores.

Minha cidade de amor 
Que embeleza meus dias 
Qual o canto do beija-flor .

Sei bem que sofro a tua falta 
Mas o que mais me maltrata 
É saudade de ti, que mata. 

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TERRA DA POESIA
Letra e música: Carloman Rocha

Minha cidade
É a terra da poesia
Abraça toda arte
Da plástica, dança, teatro
À cantoria

Minha cidade
É a mais bonita do sertão
É minha princesa
É o meu ouro, é o meu chão
Minha cidade
É a mais bonita do sertão
É minha princesa
É o meu ouro, é o meu torrão

Tens o nome da flor
Do amor e da alegria
Caxias, Caxias
Terra da poesia
Caxias, Caxias
Cidade de Gonçalves Dias
Caxias, Caxias
Terra da poesia

Princesa
Tu és patrimônio
Da cultura do Maranhão
Realeza
Teu nome está cravado com ternura
Na minh'alma e no coração

A felicidade mora aqui
Entre palmeiras e sabiá
E a poesia une-se a alegria
Num só coração
Na mesma emoção
Esse céu, esse sol
É que te faz brilhar
Te amo princesa
Te amo Caxias.

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Música: Tributo à Caxias 
(Naum EsteveS)

Minha terra tem palmeiras 
Onde canta o Sabiá
As aves que aqui gorjeiam
Não gorjeiam como lá
Nesse canto que eu canto,
Canto com alegria,
Canto pra você princesa,
Canto pra você Caxias.

Minha terra, minha cidade,
Você mora em meu coração.
Por onde for, vou cantar você,
Princesinha do Maranhão.

As tua praças, teus casarões
Misturam passado e presente.
Que fascinam e encantam a gente.

As tuas fontes, 
Tem águas que são cristalinas,
Veneza beleza plena.
Caxias, linda menina!

Teus morros, tuas matas,
teus bichos, 
Teu céu de beleza sem par.
As tuas palmeiras tão lindas, 
Onde cantam o Sabiá.
Transmitem a tua beleza,
O teu encanto e magia.
Pra você minha o meu canto princesa,
Pra você o meu canto Caxias.

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TERRA MINHA
 (Salgado Maranhão)

Quando eu te reconheci,
havia um rio entre nós,
desde então sigo cantando
no leito da tua voz.

Quando eu te reencontrei,
já era marcado a ferro,
sem ao menos perceber
o poder do próprio berro.

Passa por mim esse slide
como um cinema secreto,
como se dessa paisagem,
fosse meu próprio alfabeto.

Me lanço por entre mares,
por caminhos que nem sei...
para o fim retornar
ao ponto que iniciei.

Mesmo listando ao presente
as memórias do futuro,
acabo por te encontrar,
cada vez que me procuro.