quarta-feira, 13 de maio de 2015

Contribuições do escritor caxiense Coelho Neto para o Esporte Brasileiro - Por Francisca Girlene


 Já escrevi mais de 100 livros e ainda sou apontado na rua como o pai do Preguinho.” (C.N.) 

O caxiense Henrique Maximiano Coelho Neto, considerado o “Príncipe dos Prosadores Brasileiros”, tinha apenas seis anos de idade quando seu pai, Antônio da Fonseca, decidiu mudar com toda a família para o Rio de Janeiro por causa de perseguições políticas aqui no Maranhão. 


Em terras cariocas, Coelho Neto estudou, casou e fez a vida literária. Além de brilhante escritor, era um desportista visionário e torcedor apaixonado pelo Fluminense Futebol Clube. Coincidência ou não, a ele foi atribuída, pelo cronista e jornalista esportivo brasileiro Luiz Mendes, a autoria das expressões “torcida” e “torcedor” como forma de apoiar e estimular a equipe em uma partida de futebol: 

“[…] No começo do futebol, ir ao estádio era um ato de elegância, principalmente, no Fluminense. Por isso o Fluminense até hoje tem essa fama de clube aristocrático. As mulheres se enfeitavam como se fossem ao Grande Prêmio Brasil, colocavam vestidos de alta costura, chapéus, luvas. Mesmo que a temperatura na cidade estivesse por volta dos 40º graus, elas iam de luvas. Como o calor era muito grande, elas tiravam as luvas e ficavam com as luvas nas mãos, e como ficavam nervosas com o jogo, elas as torciam ansiosamente. Os homens usavam a palheta, um chapéu de palha muito comum na época, muito elegante e também ficavam com o chapéu na mão enquanto torciam. […] pois o Coelho Netto escreveu uma crônica em que ele usava a expressão “as torcedoras”, referindo-se às mulheres, e dali a expressão pegou e nasceu a “torcida”. Havia quem dissesse que torcida vinha do fato de as pessoas torcerem os fatos, de o torcedor torcer os fatos a favor de seu clube, mas não foi daí que o termo veio não. Apesar de que quem torce realmente torce as coisas e até distorce. Mas, na verdade, não foi por isso, foi mesmo pelo gesto das moças, principalmente, das que torciam as luvas entre as mãos.” (Mendes apud Barros, 2015). 

Tamanho era o envolvimento de Coelho Neto com o esporte que ele comprou uma casa e foi morar em frente ao clube tricolor. Escreveu hinos e diversas crônicas esportivas. Acreditava que a atividade física era uma forma de educar os jovens e fez de seus filhos grandes desportistas: 

* João Coelho Neto (o Preguinho) - conquistou 55 títulos pelo Fluminense, alcançando a marca de 387 medalhas em dez modalidades diferentes: remo, vôlei, basquete, pólo aquático, saltos ornamentais, atletismo, hóquei, tênis de mesa, natação e futebol. Como futebolista foi o autor do primeiro gol da Seleção Brasileira de Futebol em Copas do Mundo (Uruguai, 1930). 

* Violeta Coelho Neto - venceu vários campeonatos de natação pelo Fluminense Futebol Clube e pelo Clube de Regatas Guanabara. 

* Emmanoel (o Mano) - era titular do Fluminense, foi tricampeão carioca (1917, 1918, 1919) e campeão sul-americano (1919). Porém, um acontecimento trágico nos gramados acabaria encerrando prematuramente a vida do jogador. Em 1922, aos 24 anos, Mano disputava o campeonato carioca contra o São Cristóvão no estádio das Laranjeiras (Rio de Janeiro) quando recebeu uma pancada violenta no abdome, resultandono seu falecimento dias depois. 

* Paulo e Georges Coelho Neto - praticaram diversas modalidades esportivas, entre elas: atletismo, futebol e polo aquático. Quanto a Marieta (Zita) e Dina sabe-se apenas que brilhavam nos saraus do clube tricolor. 

Coelho Neto assistia a todas as competições dos filhos. Não satisfeito em ser apenas um mero torcedor, protagonizou a primeira invasão de campo na história do futebol em um clássico Fla x Flu no ano de 1916: 

“Em jogo disputado no dia 22 de outubro de 1916, o Flamengo vencia o Fluminense por 2 a 1 quando o árbitro R. Davies marcou um pênalti contra o time das Laranjeiras desperdiçado por Rienner. Logo depois, o juiz marcou outro pênalti contra o Fluminense. Sidney cobrou e Marcos de Mendonça defendeu. O juiz mandou cobrar outra vez alegando que não havia apitado. Sidney bateu e novamente Marcos de Mendonça defendeu. O árbitro mandou cobrar de novo, alegando que jogadores do Fluminense haviam invadido a área. Foi aí que o escritor Coelho Neto e o delegado de polícia Ataliba Correia Dutra pularam a grade e correram para o campo. Os torcedores também invadiram o gramado provocando a primeira anulação de um jogo no campeonato carioca.” (Revista Veja,2012). 

É fato que o escritor caxiense foi defensor ferrenho do futebol. Enfrentou com sabedoria a “Liga Contra o Foot-ball” liderada por Lima Barreto (1881-1922), e contribuiu significativamente para que o esporte se disseminasse entre todas as camadas sociais e tornasse a “Paixão Nacional” que é hoje. Mas a Capoeira também foi bastante defendida pelo escritor, que propôs inclusive que a capoeiragem, antes marginalizada, fosse ensinado nas escolas, navios e Forças Armadas: 

“A capoeiragem devia ser ensinada em todos os colégios, quartéis e navios, não só porque é excelente ginástica, na qual se desenvolve, harmoniosamente, todo o corpo e ainda se apuram os sentidos, como também porque constitui um meio de defesa pessoal superior a todos quantos são preconizados pelo estrangeiro e que nós, por tal motivo apenas, não nos envergonhamos de praticar. 

Todos os povos orgulham-se dos seus esportes nacionais, procurando cada qual dar primazia ao que cultiva. O francês tem a savate, tem o inglês o boxe; o português desafia valentes com o sarilho do varapau; o espanhol maneja com orgulho a navalha catalã, também usada pelo "fadista" português; o japonês julga-se invencível com o seu jiu-jítsu e não falo de outros esportes clássicos em que se treinam, indistintamente, todos os povos, como a luta, o pugilato a mão livre, a funda e os jogos d`armas.Nós, que possuímos os segredos de um dos exercícios mais ágeis e elegantes, vexamo-nos de o exibir.” (Coelho Neto apud Vaz, 2015). 


Em seu artigo intitulado “Coelho Neto era Capoeira” (2009), o professor Leopoldo Vaz faz referência ao escritor caxiense como um “exímio capoeira” e aborda nomenclaturas criadas por ele, inseridas no Código Desportivo Internacional de Capoeira (Legado de Coelho Neto - 1928, art. 12, parágrafo 3º),  como: Cocada, Grampeamento, Joelhada, Rabo de Arraia, Rasteira, Rasteira de Arranque, Tesoura, Tesoura Baixa, Baiana, Canelada, Ponta-pé, Bolacha Tapa Olho, Bolacha Beiço, Arriba, Refugo de Corpo, Negaça, Salto de Banda e Banho de Fumaça. 


Por fim, a história de Coelho Neto é digna de ser contada e recontada por todos nós, tantas foram as contribuições de nosso conterrâneo para as letras e para o esporte. Apesar de ter sido um dos escritores mais lidos e um dos homens mais influentes do Brasil (fim do século XIX e inicio do século XX), suas obras caíram no esquecimento do público. 

Sonho com o dia em que a casa onde nasceu esse importante escritor aqui em Caxias seja transformada em uma Biblioteca Pública de suas obras ou no Museu Coelho Neto. 


Referências Bibliográficas: 

ABL. Academia Brasileira de Letras. “Biografia de Coelho Neto”. . Acesso em: 07/05/2015. 

BARROS, Rodrigo. “Indubitavelmente, o Primeiro Torcedor Era Fluminense”. Disponível em: . Acesso em: 27/04/2015. 

CHALHOUB, Sidney; Neves, Margarida S.; Pereira, Leonardo A. M. História em cousas miúdas: capítulos de história social das crônicas no Brasil. Campinas: SP, Editora da Unicamp, 2005. 


COELHO NETTO Paulo. Bibliografia de Coelho Netto. Brasília: Ministério da Educação e Cultura – Instituto Nacional do Livro, 1972. 


FERNANDEZ, Renato Lanna. “Coelho Netto: Um Intelectual a Serviço do Esporte”. Disponível em:. Acesso em: 02/02/2015. 

MATTOS, Cyro de. “O Futebol nas letras brasileiras”. Disponível em: 

< http://www.cyrodemattos.com.br/dex.php?op=com_ent&view=article&id=196:o-futebol-nas-letras-brasileiras-&ca=46:artigos&Itemid=97>. Acesso em: 07/05/2015. 


NERES, José. “Coelho Neto: da Fama ao Esquecimento”. Disponível em: . Acesso em: 25/02/2015.

PORTO, Henrique Marques. “Ópera Sempre: Violeta Coelho Netto de Freitas”. Disponível em: . Acesso em: 16/05/2015.

PRESS, Gazeta. “ESPECIAL FLA-FLU: Uma Paixão Centenária”. Disponível em: . Acesso em: 23/04/2015.

SCHWARCZ L. M. Uma história de diferenças e desigualdades: as doutrinas raciais do século XIX. In: O espetáculo das raças – cientistas, instituições e questão racial no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

VAZ, Leopoldo. “COELHO NETO – 150 ANOS”. Disponível em: . Acesso em: 28/04/2015.
________________. “Coelho Neto era Capoeira”. Disponível em: Acesso em: 06/05/2015. 

________________. “COELHO NETO E O ESPORTE… ou seria desporto?”. Disponível em: < http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2011/02/22/coelho-neto-e-o-esporte-ou-seria-desporto/.>. Acesso em: 15/05/2015. 

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