segunda-feira, 1 de março de 2010

Doidas ou Santas (Martha Medeiros)


"Estou no começo do meu desespero e só vejo dois caminhos: ou viro doida ou viro santa". São versos de Adélia Prado, retirados do poema "A serenata". Ele narra a inquietude de uma mulher que imagina que mais cedo ou mais tarde um homem virá arrebatá-la, logo ela que está envelhecendo e está tomada pela indecisão - não sabe como receber um novo amor não dispondo mais de juventude. E encerra: "De que modo vou abrir a janela, se não doida ? Como a fecharei, se não for santa ?". Adélia é uma poeta danada de boa. E perspicaz.

Como pode uma mulher buscar uma definição exata pra si mesma estando em plena meia-idade, depois de já ter trilhado uma longa estrada, onde encontrou alegrias e desilusões, e tendo mais estrada pela frente ? Se ela tiver coragem para passar por mais alegrias e desilusões - e a gente sabe como as desilusões devastam -, terá que ser meio doida. Se preferir se abster de emoções fortes e apaziguar seu coração, então a santidade é a opção. Eu nem preciso dizer o que penso sobre isso, preciso ? Mas vamos lá. Pra começo de conversa, não acredito que haja uma única mulher no mundo que seja santa. Os marmanjos devem estar de cabelo em pé: como assim , e a minha mãe ??? Nem ela, caríssimos, nem ela.

Existe mulher cansada, que é outra coisa. Ela deu tanto azar em suas relações que desanimou. Ela ficou tão sem dinheiro de uns tempos pra cá que deixou de ter vaidade. Ela perdeu tanto a fé em dias melhores que passou a se contentar com dias medíocres. Guardou sua loucura em alguma gaveta e nem lembra mais.

Santa, mesmo, só Nossa Senhora, mas, cá entre nós, não é uma doideira o modo como ela engravidou ? (não se escandalize, não me mande emails, estou brin-can-do). Toda mulher é doida. Impossível não ser. A gente nasce com um dispositivo interno que nos informa desde cedo que, sem amor, a vida não vale a pena ser vivida, e dá-lhe usar nosso poder de sedução para encontrar the big one, aquele que será inteligente, másculo, se importará com nossos sentimentos e não nos deixará na mão jamais. Uma tarefa que dá para ocupar uma vida, não é mesmo ? Mas além disso temos que ser independentes, bonitas, ter filhos e fingir de vez em quando que somos santas, ajuizadas, responsáveis e que nunca, mas nunca, pensaremos em jogar tudo para o alto e embarcar em um navio pirata comandado pelo Johnny Depp, ou então virar a loura e cafetina, ou sei lá, diga aí uma fantasia secreta, sua imaginação deve ser melhor do que a minha.

Eu só conheço mulher louca. Pense em qualquer uma que você conhece e me diga se ela não tem ao menos três dessas qualificações: exagerada, dramática, verborrágica, maníaca, fantasiosa, apaixonada, delirante. Pois então. Também é louca. E fascina a todos.

Todas as mulheres estão dispostas a abrir a janela, não importa a idade que tenham. Nossa insanidade tem nome: chama-se Vontade de Viver até a Última Gota. Só as cansadas é que se recusam a levantar da cadeira para ver quem está chamando lá fora. E santa, fica combinado, não existe. Uma mulher que só reze, que tenha desistido dos prazeres da inquietude, que não deseje mais nada ? Você vai concordar comigo: só se for louca de pedra."

Um comentário:

  1. Oi visitei teu blog e adorei, deixo o endereço do meu www.blogdamadame.com
    beijos
    Iarema

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