quarta-feira, 19 de novembro de 2014

UBIRAJARA FIDALGO, CAXIENSE, O PRIMEIRO DRAMATURGO NEGRO DO BRASIL



Nascido no povoado São Pedro, distrito de Caxias, em 22 de julho de 1949, Ubirajara Fidalgo da Silva faleceu em 03 de julho de 1986, no Rio de Janeiro, após operação nos rins -- portanto, ainda não completara 37 anos. Teve uma vida curta, mas que grande vida ele teve!

Casou-se em 28 de janeiro de 1974 com Alzira Fidalgo, cenógrafa, figurinista e produtora, que faleceu em 2011. Sua filha, Sabrina Fidalgo, é cineasta e é quem cuida do legado dos pais. O “site” “Brasileiros na Alemanha” registra ser Sabrina muito conhecida naquele país.


Ubirajara Fidalgo foi ator, dramaturgo, produtor, empresário, apresentador de TV, diretor de teatro. De 1984 a 1986, com Edna Savaget, apresentou o programa “Ela”, na TV Bandeirantes. Foi o primeiro a ensinar e a incluir e empregar profissionalmente no teatro negros da periferia. Também foi o primeiro a levar o debate político-social aos palcos com participação e interatividade da plateia. No dia 20 de fevereiro deste ano, a vida e obra de Ubirajara fidalgo foram homenageadas no Teatro Arena, em São Paulo (SP), com exposição de fotos e vídeos e leitura de texto da peça teatral “Tuti”, a última escrita por Ubirajara (que também deixou textos inéditos e um livro não terminado).

Saindo de Caxias, em 1968 Ubirajara Fidalgo já estava em São Luís (MA), onde iniciou sua carreira artística, primeiro em curso de iniciação teatral, com o professor Jesus Chediak, depois na Universidade federal do Maranhão, no curso de Formação de Atores. Em 1970, mudou de cidade mas não mudou o curso de sua vida, isto é, o Teatro: continuou sua formação na Universidade do Rio de Janeiro. Neste mesmo ano encena “Otelo”, de Shakespeare, e dá início ao Teatro Profissional do Negro, o TEPRON.

Simultaneamente com suas atividades artísticas, desenvolve intensa militância no ativismo negro do país. Debate a situação do negro, o preconceito racial, a situação social. Seja no Clube Renascença , centro de mobilização do negro; nos Centros Populares de cultura da UNE (União Nacional dos Estudantes); na fundação do Instituto de Pesquisa da cultura negra; na Associação Cultural de Apoio às Artes Negras..., em qualquer lugar em que a arte e a vida da população negra estivesse em debate, ali estava Ubirajara Fidalgo.

Vítima de acidente de automóvel na infância, Ubirajara levou para o resto da vida um problema nos rins. Fez transplante. Mas não houve jeito. Na primeira semana de julho de 1986 morria aquele que “foi uma das grandes figuras emblemáticas do Movimento Negro no Brasil nas décadas de 1970 e 1980”, aquele considerado “um dos principais articuladores do Instituto de Pesquisa e Cultura Negra (IPCN), criado em 1975 com o objetivo de combater o racismo, o preconceito e a discriminação racial”, o “fundador do Teatro Profissional do Negro (TEPRON)”, que “aliou a montagem de seus textos teatrais às questões relevantes relacionadas ao racismo, a discriminação no Brasil contemporâneo, o preconceito, a homofobia, a misoginia, desigualdade social e a ditadura militar”.

Um caxiense de talento. Um caxiense de coragem cívico-artístico-social.


Fonte: Edmilson Sanches, poeta , jornalista e escritor caxiense
edmilsonsanches@uol.com.br

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